segunda-feira, 21 de março de 2016

Hipoglicemia reativa

Hipoglicemia reativa

Se a ausência de glicose na dieta provocasse hipoglicemia, todos teríamos glicemia baixa em nossos exames colhidos em jejum.

Muitos de nós, infelizmente, temos glicemia alta em jejum, não obstante estarmos há mais de 12 horas sem colocar nada na boca. Já escrevi em outras postagens que o fígado secreta glicose quando não estamos ingerindo esta substância.

Com frequência, pessoas escrevem afirmando sofrer de hipoglicemia. Uma parte desses casos simplesmente não são reais (são, por exemplo, hipotensão postural com ou sem lipotímia): é apenas parte de nossa carga cultural atribuir qualquer mal estar à hipoglicemia, e oferecer uma água com açúcar. Com efeito, a pessoa melhora, como melhoraria de qualquer forma, visto que a quase totalidade de tais condições (síndrome vasovagal, por exemplo), são transitórias por natureza.

Pessoas que usam hipoglicemiantes orais (metformina em geral não é problema) ou, pior ainda, insulina injetável, podem desenvolver hipoglicemia grave em low carb, motivo pelo qual tais mudanças de estilo de vida deverão ser conduzidas sob acompanhamento médico nestes casos.

Mas o que nos interessa particularmente aqui é uma condição chamada de hipoglicemia reativa. Hipoglicemia reativa ocorre quando, após o consumo de um alimento de alto índice glicêmico, a elevação súbita da glicemia leva a uma produção exagerada de insulina, que por sua vez leva a uma correção excessiva da glicemia para níveis abaixo do normal.

Isso é muito mais comum em pessoas portadoras de resistência à insulina (o que leva à hiperinsulinemia crônica, o que torna a hipoglicemia reativa uma consequência natural).

Para quem tem a ilusão de que toda a glicose do sangue vem da dieta, parece natural oferecer mais glicose para quem sofre de hipoglicemia reativa. Mas, para quem entende a fisiopatologia, tal conduta é o OPOSTO do que se deve fazer. Afinal, o que CAUSA a queda da glicemia é a resposta excessiva à ingestão de GLICOSE. Deixe de consumir muita glicose, especialmente com alto índice glicêmico, e o problema resolve-se facilmente. Ao invés de uma montanha russa com episódios de hiperglicemia seguidos de hipoglicemia e corrigidos com açúcar voltando a produzir hiperglicemia, temos a glicemia estável: aquilo que não sobe, não precisa cair.

Uma das situações associadas com hipoglicemia reativa é a cirurgia bariátrica com derivação em Y de Roux. Nesta circunstância, o alimento é esvaziado de forma rápida diretamente numa porção mais distal do intestino delgado, o que produz um aumento imediato da glicemia e, por mecanismos complexos, hipoglicemia reativa com bastante frequência. Dois artigos recentes abordam este assunto, indicando low carb como a melhor estratégia para manejo da hipoglicemia reativa também nestas situações.


Neste primeiro artigo, pacientes submetidos a cirurgia bariátrica e que sofriam de hipoglicemia reativa tiveram implantado um aparelho de monitorização contínua de glicose.

Observe os gráficos abaixo:
À esquerda, com a dieta recomendada pelos nutricionistas ("dieta convencional") e à direita com uma dieta low carb. A linha de baixo indica hipoglicemia; a linha de cima é glicemia de 130. Preciso dizer mais alguma coisa? Deixarei que os autores digam:


Ou seja, de 26 pacientes estudados, 7 tiveram hipoglicemias sintomáticas verdadeiras, com glicemia abaixo de 64 mg/dl (3,6 mmo/l). NENHUM dos episódios ocorreu durante a dieta low carb. Alguns estudos simplesmente não necessitam de estatística e testes de significância, dada a eloquência dos resultados.


Outro estudo recente aborda o mesmo tema:

A conclusão é a mesma:


Acima, os autores descrevem o que consideram ideal nestes pacientes: uma dieta low carb com menos de 120g de carbs ao dia, 1,5g de proteína por Kg de peso e cerca de 800 calorias de gordura por dia.

Não deixa de ser irônico que a dieta necessária para tratar os efeitos colaterais da cirurgia bariátrica seja tão parecida com a dieta que, se tivesse sido utilizada ANTES da cirurgia, teria uma BOA chance de tornar a intervenção desnecessária. FOTOS.

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