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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Dr Souto: Entrevista

Dr Souto: Entrevista

Tenho certeza que muitos dos nossos leitores já conhecem o Dr Souto, que tem o ótimo blog Dieta Low Carb e Paleolítica, que já recomendamos aqui diversas vezes. Admiramos muito o trabalho do Dr Souto, e o convidamos para uma entrevista para que vocês possam conhecer um pouco mais sobre sua trajetória. Bom proveito!
Foto_Jose_Souto

O que te motivou a criar um blog sobre alimentação paleolítica e low carb?

 O que me motivou foi a necessidade de divulgar aos quatro ventos o que me parecia uma grande descoberta. Como explico em meu blog, tudo começou quando ouvi uma entrevista de Gary Taubes em um podcast, e em seguida comprei e li o livro “Why we get fat”. Ao terminar o livro, estava com uma mistura de sentimentos, que ia desde a epifania (“como é que eu não pensei nisso antes?”) até a indignação (“como é possível que tudo o que eu aprendi sobre nutrição pudesse estar TÃO errado?”).Depois de ter experimentado eu mesmo, e ter visto os efeitos incríveis sobre a composição corporal e sobre meu bem estar, finalmente superei o receio de me expor publicamente, pois concluí que seria egoísmo manter tudo isso só para mim. Minha vontade era de subir no telhado e gritar para que todos ouvissem! Mas, sendo médico, e com uma reputação a zelar, tinha de fazê-lo com o maior embasamento científico possível. Cada vez que escrevia uma postagem, pensava: o que meus colegas de turma pensariam disso? E foi com este cuidado que iniciei o blog.

Há quanto tempo segue a dieta? Quais foram as principais mudanças na saúde e no corpo que notou ao mudar sua alimentação?

Há cerca de 2 anos. Bem verdade que foi uma jornada. Comecei com low carb puro, tipo Atkins. Comia low carb, mas comia junk food low carb – um monte de coisas diet sem açúcar, um monte de produtos substitutos – como barrinhas de proteína low carb, etc. Aos poucos, lendo os trabalhos de autores como Robb Wolf, Mark Sisson, Loreen Cordain e Jonathan Bailor entre outros, fui amadurecendo minha compreensão de que não é apenas a quantidade de carboidratos que importa, mas a qualidade dos alimentos, e o conceito de “comida de verdade”.
Há mudanças objetivas, e outras subjetivas. A mudança da composição corporal foi notável, com perda de muitos quilos de gordura (cerca de 15) e ganho de vários quilos de massa magra. Os exames se sangue, que já não eram ruins, ficaram muto melhores. HDL de 84, triglicerídeos de 56, proteína C reativa indetectável, testosterona subindo – é realmente incrível. As coisas não mensuráveis incluem uma sensação de bem estar – afinal, saúde não é apenas a ausência de doença, não é mesmo? Alergias desapareceram, nunca mais tive rinite ou sinusite (que me incomodavam desde a infância). Praticamente não sei mais o que é um resfriado. Apenas quando ficamos realmente bem, podemos nos dar conta de como estávamos cronicamente adoentados.

 Como médico, como você enxerga a relação da alimentação como forma de prevenção de doenças, dentro da comunidade médica no Brasil? Como você, pessoalmente, enxerga esta relação?

Infelizmente, o que tenho visto é que os pacientes passam por vários médicos sem que jamais alguém lhes pergunte se estariam dispostos a mudar sua dieta. Acho que isso acontece devido à frustração. Os colegas talvez, no início da carreira, orientassem as pessoas a seguir a pirâmide alimentar. Como isso está fadado ao fracasso, em pouco tempo os médicos concluem que esta etapa é inútil, e partem diretamente para seus receituários. Pessoalmente, eu encaro alimentação como a grande prevenção de doenças crônicas e degenerativas, à frente de outras medidas, à frente mesmo de exercício e até mesmo da cessação do tabagismo. É a coisa mais importante e transformadora do ponto de vista de saúde.

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 Na sua opinião, quais são as principais barreiras para a divulgação do conhecimento sobre nutrição baseado em evidências científicas no Brasil?

No Brasil e no mundo, a grande barreira é o dogma vigente, o senso comum. A ideia de que apenas o que importa são as calorias, a ideia de que a gordura natural dos alimentos faz mal, a ideia de que as sementes cultivadas de meia-dúzia de gramíneas deveriam ser a base da dieta de nossa espécie. No fundo, se você parar para pensar, TODAS estas ideias – que não são baseadas em evidências – são oriundas da indústria alimentícia, e promovidas por ela.
Afinal, se você convencer alguém de que 100 calorias são 100 calorias, tanto faz se forem 100 calorias de coca cola ou de salmão; se você acreditar que a gordura natural dos alimentos faz mal, não poderá mais comer direto da natureza, precisará que a indústria processe os alimentos para você, retirando a gordura e acrescentando sabores artificiais; e se você parar de comer grãos, o que vão fazer com toneladas e toneladas de grãos subsidiados? Alguém precisa comer aquilo que a indústria produz de forma barata, processa, e vende caro, não é mesmo?

Na sua prática clínica, costuma recomendar a alimentação paleo/ low carb para seus pacientes? Qual a reação deles?

Sim, eu costumo recomendar a dieta para aqueles pacientes que estão dispostos a ouvir. Quando o sujeito me procura para assuntos específicos da minha especialidade, e já se trata com seu endocrinologista ou cardiologista, eu não interfiro, a fim de não causar conflitos. Mas quando a pessoa é meu paciente, e está fazendo seu check up, e detecto alterações no sentido de síndrome metabólica, eu explico ao paciente do que se trata, e pergunto: “você quer ser tratado com vários remédios, ou está disposto a fazer uma mudança de estilo de vida”?
Quase sempre as pessoas optam por não tomar remédios, SE VOCÊ LHES DER UMA CHANCE.Infelizmente, é apenas uma minoria dos pacientes que efetivamente segue as mudanças propostas – mas estes poucos sofrem transformações de vida que você não imaginaria que fossem possíveis.

Dr. Souto, como você lida com os eventos sociais onde consumir carboidratos refinados parece ser a norma? Qual é a reação das pessoas?

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Minha impressão é que algumas coisas mais servem como desculpa para justificar o retorno aos maus hábitos do que um motivo real. Há dois tipos de eventos sociais, aqueles em que você pode escolher o que comer dentre as opções oferecidas, e aqueles em que não há opções. Você não é obrigado a raspar o prato. Só porque há um acompanhamento de arroz e batatas com seu filé, não significa que você precise comê-los. Só porque há canapés antes da janta, não significa que vc tenha que comê-los. Mais de uma vez, fui juntamente com colegas de trabalho a um rodízio de pizza – e eu comi apenas o recheio das pizzas. É esquisito? E daí? Tudo depende de sua escala de valores. Se você saísse com um grupo de pessoas que fumam, você fumaria apenas para se misturar? E se elas usassem drogas?
Há outras situações mais difíceis. Se você vai a algum evento mais formal, em que você sabe que não poderá, por exemplo, desmontar o sanduíche, há 2 alternativas: abrir uma exceção e comer, ou jantar antes. Eu NUNCA vou a um evento destes com fome, sempre como antes.
Cada um sabe o que é melhor para si. Quanto a glúten, não abro exceções, nunca como – minhas alergias em seguida retornam (coisas objetivas, que podem ser vistas na pele). Com arroz e batatas sou mais liberal.
No meu caso, é mais fácil, pois as pessoas já sabem de antemão minhas opiniões, e eu posso argumentar com qualquer pessoa sobre o assunto. Imagino que para outras pessoas possa ser complicado. Acho que a melhor reposta é “não estou com fome” ou “não estou bem da barriga”.

Quais são os três principais conselhos que você daria para quem está interessado em ser mais feliz, ter mais saúde e qualidade de vida?

1) Coma comida de verdade;
2) Pratique exercícios físicos de alta intensidade e curta duração;
3) Faça os itens 1 e 2 com prazer, sabendo que você está investindo em seu futuro e qualidade de vida; não encare a coisa como “uma dieta”, algo temporário, e sim como um estilo de vida em que é possível viver bem e sem privações, e ao mesmo tempo ter saúde e bem estar.
Obrigada Dr Souto, pela ótima entrevista! Gostamos muit

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