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segunda-feira, 8 de agosto de 2016

ALZHEIMER, CETONAS E NOS ENGANANDO (PARTE 1 DE 3)

ALZHEIMER, CETONAS E NOS ENGANANDO (PARTE 1 DE 3)

Artigo traduzido por Juliana Whately. O original está aqui.

por Amy Berger.

A Configuração

Imagine o seguinte cenário:

Você se encontra andando de um quarto para outro e não consegue se lembrar o porquê. E isso tem acontecido com mais frequência.

Você tem esquecido onde estão as coisas. Seu telefone, suas chaves, sua carteira ou bolsa. E isso tem acontecido com mais frequência.

Você tem esquecido de compromissos importantes e isso está acontecendo com mais frequência, também.

Mas isso não é grande coisa, certo? Você está apenas ficando mais velho. Isto é normal. "Momentos senis". Acontece com todo mundo.

Mas e se as coisas são um pouco piores do que isso?

E se você estiver fora e se esquecer de como voltar para casa?

E se você sair para uma caminhada sozinho e se perder em sua própria vizinhança?

E se você colocar alguma coisa no fogão para cozinhar, então se afastar durante alguns minutos e a única razão que faz você lembrar-se de que tinha algo cozinhando é porque o alarme de incêndio soou e a casa está cheia de fumaça?

E se você começar a perguntar para as pessoas a mesma pergunta simples - uma que elas já responderam - mais e mais e mais uma vez?

Você não está apenas tendo momentos senis. Você está tendo dias inteiros senis. Semanas senis. Mesessenis.

Você está literalmente perdendo sua mente.

Talvez tenha chegado num ponto em que teve que parar de trabalhar.

Talvez sua família já não confie em você para ficar em casa sozinho, ou cozinhar sozinho, ou conduzir o seu carro.

Assustador, não é?

Mas o que se eu lhe dissesse que posso consertar as coisas para você?

E se eu lhe dissesse que tem algo que pode ajudar o seu cérebro a trabalhar melhor, e se você tomá-lo, você não tem que mudar uma única coisa em sua vida. Você pode continuar a exercer os exatos mesmos comportamentos que lhe trouxeram a este ponto horrível em primeiro lugar.

Isso não seria ótimo? Tudo que você tem a fazer é tomar essa coisa especial que eu tenho para você, e você não tem que mudar nada sobre o que você come ou como você vive.

Quem não gostaria desta oportunidade? Você pode tomar essa "coisa" e não tem que aceitar qualquer responsabilidade por ter chegado ao estado em que está.

Acredite ou não, isso não está muito longe da direção que os pesquisadores da doença de Alzheimer estão dirigindo seus navios. Caso em questão:

Newport MT, VanItallie TB, Kashiwaya Y, King MT, Veech RL. A new way to produce hyperketonemia: Use of ketone ester in a case of Alzheimer’s disease. Alzheimers Dement. 2015 Jan;11(1):99-103 (Uma nova forma de produzir hipercetonemia: Uso de éster de cetona em caso de Doença de Alzheimer).

Antes de entrar no estudo, quero afirmar aqui que eu sou uma grande fã dos autores deste trabalho. Eles têm contribuído além da medida para a minha compreensão da patologia e progressão do Alzheimer, e o potencial uso terapêutico de cetonas para esta condição. O trabalho do Dr. Veech, Dr. VanItallie, e Dr. Kashiwaya, em particular, foi fundamental para a minha escrita do The Alzheimer's Antidote (O Antídoto do Alzheimer), e seus estudos continuam a informar e enriquecer meu vasto conhecimento sobre este assunto. (Resumindo: essas pessoas são INCRÍVEIS e os meus pensamentos sobre este artigo, em especial, não devem de forma alguma ser tomados como nada menos do que o meu maior respeito e apreço pelo seu corpo global de trabalho.)

Dito isto, você pode adivinhar que eu provavelmente não estaria escrevendo um post no blog de 3 partes sobre este artigo se eu não tivesse um osso pra roer. E não algum osso fracote, como um metatarso, mas um grande, como um fêmur.)

O estudo

Este artigo é um "estudo de caso", ou seja, eles tinham um sujeito, fizeram algumas coisas com ele, e informaram o resultado. O sujeito, neste caso, era o marido da Dra. Newport, um homem de 63 anos de idade, que começou a apresentar perda progressiva da memória e outros sinais de início precoce do Alzheimer ​​aos 51 anos. De acordo com o estudo, "A condição se agravou inexoravelmente e, durante 2006, ele teve de desistir de seu emprego e parar de dirigir. Até então, ele estava exibindo traços característicos do Alzheimer, incluindo perda de memória cada vez mais graves, falta de concentração e organização, extravio de itens importantes, incapacidade de realizar atividades da vida diária e incapacidade de ler e soletrar ".

Como você pode ver, o Sr. Newport estava em má forma.

Sabendo que a doença de Alzheimer não é conhecida por ter quaisquer estratégias de prevenção ou de tratamento eficazes, a Dra. Newport foi para a literatura médica. Sendo médica (especialista em neonatologia), ela estava bem equipada para fazer pelo menos algum sentido e ver se havia alguma coisa - qualquer coisa - que pudesse ajudar o marido, cuja capacidade cognitiva estava se deteriorando rapidamente.

E eis que a Dra. Newport se depara com o uso de cetonas como "alimento para o cérebro". Ela começou pequena. Muito pequenaEm uma entrevista em podcast com Jimmy Moore alguns anos atrás, ela contou que tinha adicionado um pouco de óleo de coco na sua aveia de manhã. Não havia muita mudança em seu funcionamento (choque), então ela acrescentou um pouco mais e um pouco mais. E, finalmente, houveram melhorias visíveis em sua cognição. Yes!

Não tenho certeza se a Dra. Newport estava familiarizada com os efeitos da elevação de cetona em dietas low-carb na época, mas, com base no conteúdo do presente artigo mais recente, certamente ela está agora. Todos os autores deste trabalho estão. Note que estou usando deliberadamente o termo "low-carb," em vez de "cetogênica". Há uma razão para isso, eu vou chegar lá mais tarde. (Além disso, em algum momento, um post separado dedicado a esta distinção, sem relação com a doença de Alzheimer.)

Uma olhada no estudo:

Com o objetivo de alimentar os neurônios famintos do Sr. Newport, deram-lhe doses crescentes de um monoéster de cetona (KME). Eu tenho zero de experiência pessoal com cetonas exógenas, então pode ser que não esteja tudo exatamente certo, mas aqui vai de qualquer maneira. Basicamente, existem agora ésteres de cetona e sais de cetonas, e vários "preparações" cetônicas que as pessoas podem tomar através de alimentos ou bebidas, o que irá elevar temporariamente seus níveis séricos de beta-hidroxibutirato (β-OHB). (Para todos os novatos que estejam lendo isto, β-OHB é a cetona medida no sangue; acetoacetato é o que tiras de teste de urina medem e a respiração mede a acetona.) Note que eu disse temporariamente. Quando as cetonas são provenientes de uma fonte externa, é lógico que, quando elas são usados, quaisquer efeitos benéficos que possam acontecer vão desaparecer assim que os níveis de cetona voltarem ao normal. ("Normal" sendo níveis extremamente baixos que estão tipicamente pressentes em pessoas que consomem uma quantidade substancial de carboidratos.)

A KME foi entregue em uma bebida. Como se afirma no artigo, "KME foi sempre tomada misturado com xaropes com sabor de refrigerante [25% de xarope, 25% de KME e 50% de água] para ajudar a mascarar o seu sabor desagradável". Não é especificado se os 25% de xarope de refrigerante foi feito com açúcar ou sem.

Enquanto tomava KME, Sr. Newport ainda estava tomando suas múltiplas doses de óleo de coco durante o dia (como ele já vinha fazendo há alguns anos) e, por outro lado, continuou com sua dieta típica: "Durante todo o tratamento com KME, o paciente permaneceu em sua dieta habitual e também continuou a tomar a mistura TCM/OC". (A esta altura, a Dra. Newport tinha mudado a uma mistura de seu marido para triglicerídeos de cadeia média [TCM] e óleo de coco [OC].)

Para encurtar a história, independentemente do conteúdo de carboidratos da bebida em que a KME foi entregue, o Sr. Newport teve melhoria em sua função cognitiva, como demonstrado através de "humor, afeto, autocuidado e o desempenho cognitivo e atividade diária". Tanto ele quanto a Dra. Newport observaram essas melhorias, e eu quero salientar que estas melhorias foram significativas em uma pessoa real no mundo real, em oposição a "significância estatística", que muitas vezes não significa nada. Devido à função cognitiva prejudicada seriamente e uma incapacidade para operar de forma independente no mundo em geral, este homem tinha sido forçado a abandonar sua prática profissional de contabilidade e foi rendido uma sombra de seu eu interior.

Aqui estão os resultados após a administração regular da KME:

"Durante os dois primeiros dias de KME, o paciente recebeu 21,5g três vezes por dia. Trinta minutos de vídeos feitos entre 2 e 3 horas após a primeira dose de KME demonstraram uma melhoria significativa no humor e na capacidade de recitar e escrever o alfabeto completo, que ele era incapaz de fazer por muitos meses. Na manhã seguinte, ele espontaneamente escolheu a roupa e se vestiu - também um novo desenvolvimento. No terceiro dia de tratamento com KME, a quantidade administrada foi aumentada para três porções de 28,7g/d. Após o aumento, ele começou a iniciar e concluir muitas outras atividades sem avisar ou sem assistência.

Essas incluíram tomar banho, fazer a barba, escovar os dentes, encontrar seu caminho em torno da casa, escolher e encomendar comida de um menu e distribuir utensílios na máquina de lavar louça. Estas atividades não eram observados há meses antes do início da KME. O pensamento abstrato, percepção e um senso de humor sutil voltou na sua conversa. Na sua própria avaliação de sua resposta a KME, ele afirmou que se sentia "bem", tinha "mais energia" e estava "mais feliz". Ele também achou que estava "mais fácil fazer as coisas" - que coincidiu com as observações do cuidador".

Obviamente, a KME estava tendo um efeito inegável e benéfico. Na verdade, as cetonas exógenas soam próximo dum algo mágico. Após testar as cetonas do Sr. Newport, foram confirmadas:
  • Dependendo da dose de KME (variando de 25 a 50g), os níveis sanguíneos de β-OHB foram medidos de desde quase zero até 7,0mm. (7.0 é bem alto, à propósito. Nem perto de uma cetoacidose diabética, mas maior do que normalmente é viável mesmo em uma dieta cetogênica estrita, pesada em TCM).
  • Doses mais elevadas do KME resultaram em níveis sanguíneos mais elevados de β-OHB.
  • Níveis sanguíneos mais elevados de β-OHB foram positivamente correlacionados com uma melhor função cognitiva e desempenho de tarefas essenciais da vida diária.
Não há dúvida de que administrar cetonas exógenas pode elevar, e normalmente eleva, as cetonas no sangue. E cetonas no sangue mais altas geralmente se correlacionam com um melhor desempenho em testes do tipo padrão de cognição rotineiramente utilizados para medir a progressão da doença de Alzheimer, bem como as observações subjetivas de pacientes e seus cuidadores. Muitos estudos na literatura da doença de Alzheimer têm mostrado isso. Eu não estou contestando que isso aconteça, nem que seja uma coisa muito boa. Acontece, e é.

Segundo os autores, aqui estão alguns outros benefícios da utilização do monoéster de cetona e outras cetonas exógenas:

"... Em comparação com o inconveniente de preparar e consumir uma KD, a ingestão de KME é um método seguro e simples para elevar temporariamente o nível de KB no plasma ..."

"Hipercetonemia induzida por KME é robusta, conveniente e segura, e o éster pode ser tomado regularmente como suplemento alimentar sem a necessidade de alterar a dieta habitual."

Hum, sim.

Alguém quer adivinhar onde estou indo com isso?

O problema

Só eu, ou esse "aumente os carbos e aumente as cetonas" chocam alguém mais como sendo problemático, de acordo com a linha de conselho da Associação Americana de Diabetes que é "aumente os carbos e jogue insulina em cima" ? Mantenha o começo do seu dia com panquecas e suco de laranja, mantenha ir de carro para a loja que fica apenas 400m de distância, e mantenha-se rodando o estacionamento até encontrar a vaga mais próxima da porta para que você não tenha que andar mais do que alguns passos.

É por isso que eu comecei este post da maneira que eu fiz: não mudar nada em sua dieta ou sua vida. Basta dar as cetonas. Não importa que problemas metabólicos e fisiológicos induzidos por dieta e estilo de vida sejam susceptíveis de ter pelo menos algum papel causal no declínio cognitivo que está ocorrendo. Basta ir em frente e continuar consumindo essa mesma dieta e se envolver nessas mesmas práticas de estilo de vida.

Certo.

(continua...)

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