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quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Comida pode matar!


Comida pode matar!


Mas a solução não é viver de luz!

Ontem, chamou atenção de todos nas redes, o caso da repórter Joanna de Assis, do programa “Bem, amigos” do SporTV. Após comer camarão em um restaurante japonês de São Paulo, ela deu entrada na UTI em estado grave, por uma infecção alimentar e por pouco não morreu.
Você pode achar que esse texto não é tão importante, mas cerca de 3000 pessoas morrem todos os anos nos Estados Unidos com infecções e intoxicações alimentares e estima-se que 1 em cada 6 pessoas tem o problema por ano.
E aí te pergunto: quem nunca teve um mal estar após alimentação?E porque em algumas pessoas este pode ser leve e passageiro e em outras pode ser tão grave? E quando acontece com meu filho? Quais os riscos reais e como se prevenir? O que pode ser confundido com o problema, mas que não tem nada a ver com infecção, mas também pode ser muito grave?
Tudo isso vou te responder nesse post.

O tamanho do problema

No Brasil, para variar um pouquinho, temos poucos dados e muitos casos de toxinfecção alimentar que dão entrada nas unidades de saúde, não são notificados como tal. Os números do DATASUS apontam para um aumento progressivo nas notificações, entre os anos de 2007 e 2014 cerca de 50.000 casos foram notificados, sem dados quanto à mortalidade.
Quando olhamos os dados dos EUA, que tem um sistema de notificação e acompanhamento eficientes, vemos que o problema é bem maior do que imaginamos:
  • 48 milhões de casos/ano
  • 120.000 hospitalizações
  • 3000 mortes

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Quais são os principais responsáveis?

A lista é grande, mas vou te ensinar cada um, onde eles podem estar e como prevenir.
  1. Toxinas bacterianas: são produzidas pelas bactérias ao se multiplicarem no alimento. Como exemplos temos a toxina botulínica (sim, aquela do BOTOX!), a estafilocóccica e a toxina do bacilus cereus.
  2.  Toxinas naturais: normalmente estão presentes em frutos do mar e peixes, podendo causar desde sintomas intestinais até sintomas neurológicos e respiratórios graves. Temos também toxinas que atuam no sistema nervoso central nos famosos cogumelos (aqueles, do chá…)
  3. Bactérias e vírus patogênicos: a lista é enorme, mas os mais importantes são a Shigela, a Salmonela e o Estafilococos. Nas grávidas, a Listeria pode causar problemas graves os bebês. Nos cruzeiros chiques, o piri piri generalizado que estraga a viagem, ultimamente, tem tido o norovírus como causador. A E. coli é causadora comum da chamada diarréia do viajante. Aquela, da famosa maldição de Montezuma do México, ou da maldição da azeitona da feijoada no Rio de Janeiro. Normalmente são transmitidos por contaminação do alimento no preparo (mãos de quem faz), acondicionamento em temperatura inadequada, transporte sem cuidados e tempo de cozimento inadequado.
  4. Micotoxinas: merecem uma menção especial, pois tem chamado cada vez mais a atenção. Não causam normalmente sintomas agudos, mas pelos efeitos hepáticos crônicos, podem desencadear alterações que facilitam o câncer naquele orgão. Podem estar presentes em vários alimentos, como milho, nozes, amendoim, frutas secas, temperos, figo, óleos vegetais, cacau, arroz e algodão e no nosso país, a castanha do Pará ou do Brasil, é fonte frequente.
  5. Toxinas vegetais: são substâncias que para o alimento se configuram muitas vezes em proteção contra os agressores, logicamente causando problema para estes quando as consomem. Como exemplos temos os glicosídeos cianogênicos da mandioca, as solaninas da berinjela, batata, tomate e as lecitinas e hemaglutininas das leguminosas. A grande maioria é termolábil, ou seja, quando submetidas à tempraturas altas e pressão por algum tempo (os estudos falam em 5 min em panela de pressão), elas se degradam. Mas creio que ninguém aqui vai comer essas hortaliças cruas, não????

Credit: Rocky Mountain Laboratories,NIAID,NIH Color-enhanced scanning electron micrograph showing Salmonella typhimurium (red) invading cultured human cells.
A famosa Salmonela

Quais são os principais sintomas?

Na grande maioria das vezes, algumas horas após a ingestão do alimento contaminado, surge um quadro súbito de diarréia, vômitos, cólica, mal estar, febre e em alguns casos mais graves, dores intensas no corpo, calafrios e fraqueza intensa.
O ideal é sempre procurar um pronto atendimento ao surgirem os sintomas, não incorrer na auto medicação tão comum, principalmente em crianças, que podem desidratar com facilidade e tem imunidade mais frágil.

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Por quê pode ser tão grave?

Primeiro, depende muito da imunidade do indivíduo e da carga de toxinas e bactérias contidas no alimento. Você já percebeu que naqueles casos de grandes intoxicações alimentares, tem gente que tem o quadro leve, outros mais sérios e até tem lamentáveis casos de morte.
Aqui deixo um alerta: nos casos de intoxicações alimentares com quadro de muita gravidade, é importante que após seja feita uma avaliação da imunidade do indivíduo.

Será que tudo é toxinfecção alimentar?

Deixo aqui também outro alerta: cada vez tem sido mais comum a identificação de pacientes que ao consumirem um alimento específico, muitas vezes sem ter sido sequer mal acondicionado e manipulado, apresenta sintomas de toxinfecção, com diarréia, vômitos severos, e até vão para a UTI. Alguns deles podem ter o que chamamos de FPIES, a Síndrome da Enterocolite Induzida por Proteínas Alimentares, que é um quadro semelhante à alergia alimentar e precisa ser bem avaliado pelo alergologista e pediatra.

E por fim, como evitar?

Primeiro, cuidado onde se alimenta. Se você perceber sinais de má higiene no ambiente, fique de orelha em pé. Segundo, evite consumir alimentos crus em locais que você não conhece. Não os dê para crianças pequenas em nenhuma hipótese, nem para grávidas (peixe cru e carpaccio deixe para quando crescer e tiver o bebê). Observe a adequada preparação de certos alimentos e mesmo em casa, não descuide da higiene.
Leia mais aqui:
http://www.nhs.uk/translationportuguese/Documents/Food_Poisoning_Portuguese_FINAL.pdf
http://www.minhavida.com.br/saude/temas/intoxicacao-alimentar
http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/o_perigo_dissimulado_da_intoxicacao_alimentar.html

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