Gordura Trans: Solução antiga para um problema novo
Para que seja possível reduzir a presença das gorduras trans nos alimentos, a FDA teve que tomar uma medida para que as gorduras trans passassem a ser classificadas como aditivos químicos que não são considerados “seguros” pela agência, para que sejam proibidas de serem adicionadas a produtos sem uma avaliação da FDA. Para que as empresas possam adicionar a gordura trans aos produtos, elas terão que provar que o alimento é seguro, o que contradiz todos os estudos.
As gorduras trans são criadas no processo de hidrogenação parcial de óleos vegetais para que a gordura se torne sólida e assim sejam criados produtos como a margarina, como substituição de alimentos de verdade como a manteiga. Ela já foi parcialmente removida de muitos itens nos EUA desde que muitos restaurantes pararam de utilizar produtos ricos em gorduras trans e empresas processadoras de alimentos diminuíram o conteúdo em seus produtos, para atrair a atenção do consumidor. No entanto, muitos produtos ainda possuem quantidades consideravelmente altas de gorduras trans como salgadinhos, pizzas congeladas, massas prontas, entre outros.
De acordo com Margaret Hamburg, comissária da FDA, a medida pode evitar 20 mil infartos e 7 mil mortes por ano nos EUA. Para nossos leitores do blog, isso não é nenhuma novidade, pois já foram postados diversos estudos no blog que demonstram os malefícios causados pelo consumo de gorduras trans presentes em produtos como a margarina e óleos vegetais líquidos (sim, eles também possuem gorduras trans, apesar de não estar presente no rótulo) e do consumo de óleos vegetais, apesar dos esforços de governos como o americano e o brasileiro em promovê-lo.
As gorduras trans são um veneno para nossa saúde e pesquisas têm associado-a a inflamação, problemas no sistema imunológico, aterosclerose, diabetes, obesidade, entre outras doenças. Isto ocorre devido ao fato dela ser uma gordura “nova para o corpo”, de modo que o corpo não consegue identificá-la e não sabe como eliminá-la e por isso acaba tendo que ser absorvida pelas membranas celulares, afetando negativamente a saúde do metabolismo.
A FDA estima que a ingestão de gordura trans entre os consumidores norte-americanos caiu de 4,6 gramas por dia, em 2003, para cerca de um grama por dia em 2012. De acordo com o presidente da Associação Americana de Soja, Danny Murphy, em torno de 3,2 milhões de hectares de soja já foram perdidos desde inicio da conscientização do público a respeito dos malefícios causados pelo consumo de alimentos com gordura trans.
A indústria quer revanche.
A indústria teve que engolir as medidas da FDA e esta medida foi uma preocupação muito grande para os produtores de soja, já que a Associação Americana de Soja também estima que 1,6 mil hectares de soja poderão ser perdidos como resultado desta medida. Por isso, a indústria de soja já esta tomando medidas para que a produção de óleo não seja diminuída. Estão esperando a aprovação de uma espécie de soja geneticamente modificada pela Monsanto, que não precisa passar pelo processo de hidrogenação parcial para ficar sólida.Você achou que eles iriam se render assim tão facilmente? Como se o alto consumo de óleos vegetais processados já não bastasse para contribuir para a morte de milhões de americanos, independente de não possuírem quantidades tão altas de gorduras trans como as margarinas, que são em geral parcialmente hidrogenadas nos EUA, agora a indústria quer dominar o consumidor com garras ainda mais afiadas, tendo o objetivo de dentro de 10 anos aumentar a produção da soja, equivalente a utilização de mais de sete milhões de hectares de produção de soja, além do que já é utilizado atualmente, de acordo com o Conselho de Soja dos EUA.
No Brasil:
As margarinas vendidas no Brasil geralmente passam por um processo de interesterificação, no qual o óleo sofre uma modificação química para torná-lo sólido por períodos longos e ter uma vida útil mais longa, como uma alternativa para o processo de hidrogenização parcial, que foi muito criticado por criar gorduras trans. Este processo foi criado para que assim fosse possível tirar as “Gorduras trans” nos rótulos dos alimentos e assim poderem votar a afirmar que vendem produtos saudáveis. Vocês já notaram que agora ele vem até com um coraçãozinho desenhado?O que acontece é que estas margarinas interesterificadas, apesar de poderem conter menos gorduras trans que as margarinas que passam pelo processo de hidrogenização parcial, possuem seus próprios perigos inerentes. O aquecimento feito em temperaturas altas durante o processo de interesterificação garante que a gordura poliinsaturada ômega 6 do produto, assim como o restante dos ácidos graxos, contenha altos níveis de resíduos químicos, substâncias tóxicas como hexano e muitos radicais livres associados ao desenvolvimento do câncer.
O fato mais surpreendente é que pesquisas feitas em humanos mostram que o consumo da gordura interesterificada impacta o organismo de maneira pior que a margarina antiga, que era parcialmente hidrogenada e cheia de gorduras trans! Ela altera o metabolismo do ser humano de maneira negativa, gerando distúrbios metabólicos como o desregulamento do metabolismo da insulina e o aumento da glicose sanguínea em até 20% dentro de um mês, como foi constatado por Sundram, o autor de um dos estudos no qual a gordura interesterificada foi reprovada em um teste de performance metabólica. Isso merece um selo de advertência nas embalagens dos produtos, como é feito com os cigarros, e não a foto desonesta e manipuladora de um coraçãozinho que conquista o coração e a mente do brasileiro.
No caso das gorduras trans no Brasil, para que as empresas sejam permitidas de alegar que seus produtos são livres de gordura trans ou “zero trans” nas embalagens, de acordo com as normas da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é permitido que os produtos tenham no máximo 0,2 g por porção. No próximo post mostrarei evidências de que esta regra não está sendo cumprida no Brasil.
Apesar do foco atual da mídia e das autoridades brasileiras e internacionais nas gorduras trans, o maior perigo continua sendo negligenciado, ou melhor, não compreendido por elas, que é a característica prejudicial à saúde humana dos óleos vegetais industrializados ricos em ômega 6 do trigo e do açúcar, sendo que os dois primeiros, infelizmente contra o que a ciência demonstra, são largamente incentivados a serem consumidos no lugar da gordura animal que continua sendo mal compreendida.
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