Óleo de coco - de novo.
Hoje a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia resolveu se manifestar sobre a polêmica do óleo de coco (veja aqui sobre o que se trata).
Já escrevi a minha posição sobre o assunto, baseada em evidências de nível 1 (veja aqui).
Dessa vez, farei diferente. Vou colar, abaixo, em vermelho, o texto da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e, após cada afirmação do texto, colocarei a posição de entidades mundialmente respeitadas. Vamos ver como fica:
Já escrevi a minha posição sobre o assunto, baseada em evidências de nível 1 (veja aqui).
Dessa vez, farei diferente. Vou colar, abaixo, em vermelho, o texto da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e, após cada afirmação do texto, colocarei a posição de entidades mundialmente respeitadas. Vamos ver como fica:
Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira
de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira para o
Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) sobre o uso do
óleo de coco para perda de peso.
Considerando que muitos
nutricionistas e médicos estão prescrevendo óleo de côco para pacientes
que querem emagrecer, alegando sua eficácia para tal propósito;
Não se afirma isso neste blog
Considerando que não há qualquer evidência nem mecanismo fisiológico de que o óleo de côco leve à perda de peso;
Considerando que o uso do óleo de côco pode
ser deletério para os pacientes devido à sua elevada concentração de
ácidos graxos saturados, como ácido láurico e mirístico;
O que o UpToDate, "o principal recurso
de suporte a decisões médicas baseado em evidências, confiado pelo mundo
todo por profissionais de saúde", tem a dizer sobre essa afirmação?
Traduzindo: "Embora
saiba-se que há uma relação gradual entre concentação de colesterol e
doença coronariana, e que o consumo de colesterol na dieta aumenta o
colesterol total, uma metanálise de 2014 não achou associação entre gordura saturada e doença cardiovascular. A
metanálise também não achou relação entre o consumo de gordura
monoinsaturada e doença cardiovascular, mas sugeriu uma redução com o
aumento do consumo de gorduras ômega-3; o benefício de gorduras ômega-6
permanece incerto. Em virtude destes resultados, nós não sugerimos mais que se evitem as gorduras saturadas propriamente
ditas, embora muitos alimentos ricos em gorduras saturadas sejam menos
saudáveis do que os que contém níveis mais baixos (nota do tradudutor: estão falando de fast food, não de coco ou carne de gado alimentado com pasto). Em particular, nós não achamos mais que haja evidências substanciais no sentido de escolher laticínios desnatados (tais
como escolher leite desnatado ao invés de integral). Nós continuamos a
recomendar a redução do consumo de gorduras trans."
"uma meta-análise de estudos controlados randomizados mostrou que trocar
uma combinação de gorduras trans e saturadas por gorduras ômega-6
poliinsaturadas (sem simultaneamente aumentar os ácidos graxos ômega-3)
leva a um risco aumentado de morte [21]. Esses resultados foram
corroborados quando os dados foram recuperados do Estudo da Dieta do
Coração de Sidney, e incluídos em uma meta-análise atualizada [22].".
A SBEM e a ABESO posicionam-se frontalmente
contra a utilização terapêutica do óleo de coco com a finalidade de
emagrecimento, considerando tal conduta não ter evidências científicas
de eficácia e apresentar potenciais riscos para a saúde.
Nesse sentido não há polêmica. Não se indica óleo de coco para emagrecer (ao menos não neste blog).
A SBEM e a ABESO também não recomendam o uso
regular de óleo de coco como óleo de cozinha, devido ao seu alto teor de
gorduras saturadas e pró-inflamatórias.
Novamente a SBEM afirma que o óleo de coco não deve ser usado por conter gordura saturada. Vamos ver o que a Academia Americana de Nutrição pensa sobre o assunto:
Logo em seguida, afirmam que óleo de coco é inflamatório. O que o único ensaio clínico prospectivo e randomizado avaliando especificamente esse assunto em HUMANOS indicou?
Results: No
significant differences were observed in the effects of the 3 diets on
plasma total homocysteine (tHcy) and the inflammatory markers TNF-α,
IL-1β, IL-6, and IL-8, high-sensitivity C-reactive protein, and
interferon-γ. (Não houve diferenças significativas observadas nos
marcadores inflamatórios homocisteínas, TNF-α, IL-1β, IL-6, and IL-8, proteína C reativa ou interferon-γ).
O uso de óleos vegetais com maior teor de
gorduras insaturadas (como soja, oliva, canola e linhaça) com moderação,
é preferível para redução de risco cardiovascular.
O que o Medscape e o British Medical Journal dizem sobre a afirmação de que óleos insaturados são preferíveis para redução de risco cardiovascular?
Conclusions.
Advice to substitute polyunsaturated fats for saturated fats is a key
component of worldwide dietary guidelines for coronary heart disease
risk reduction. However, clinical benefits of the most abundant
polyunsaturated fatty acid, omega 6 linoleic acid, have not been
established. In this cohort, substituting dietary linoleic acid in place
of saturated fats increased the rates of death from all causes,
coronary heart disease, and cardiovascular disease. An updated
meta-analysis of linoleic acid intervention trials showed no evidence of
cardiovascular benefit. These findings could have important
implications for worldwide dietary advice to substitute omega 6 linoleic
acid, or polyunsaturated fats in general, for saturated fats.
O que o editorial da revista OpenHeart diz sobre o assunto?
Conclusão: mesmo que a reputação acadêmica de QUEM faz a afirmação fosse importante (ao invés do nível de evidência), ainda assim a posição de entidades de muito maior peso mundial difere da postura da SBEM.
Não basta contrapor o que eu
afirmo. Precisa também contrapor o UpToDate, a Academy of Nutrition and
Dietetics, o único ensaio clínico randomizado sobre inflamação e óleo
de coco no American Journal of Clinical Nutrition, o Medscape e o
OpenHeart.
Já afirmei várias vezes aqui no blog que a qualidade das evidências é mais importante do que o pedigree do mensageiro. Mas, neste caso, quem gosta de pedigree está bem servido.
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