Uma introdução à isometria: Como construir força sem sequer se mover.
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Todd Kuslikis
Aviso:
alguns de vocês estão prestes a achar que eu estou louco. Para aqueles
de vocês que não ouviram falar de isométricos, esse conceito de
construção de força vai te fazer pensar que eu oficialmente fiquei lelé.
Força funcional e ganhos de massa fantásticos sem sequer se mover ?
Deve ser algum tipo de piada, certo ?
Não é. Vamos fazer um pequeno experimento. Pare o que você está fazendo
por um segundo, sente-se e junte as palmas das mãos, com os dedos
apontando para fora, cerca de 25 distantes do seu peito. Agora aperte
uma palma contra a outra o mais forte que poder. Respire. Respire um
pouco mais. Um pouco mais. E... pare.
Como você se sente ? Braços e peitorais um pouco cansados ? Deveriam
estar. Você acabou de ter a sua primeira introdução às "flexões de
palma" (palm pushes), um exercício isométrico. Se você está habituado a
técnicas de treino de força mais dinâmicas e convencionais, pode estar
sentindo-se um pouco confuso. Como é que você conseguiu criar tanta
mobilização sem mover um músculo ?
É anatomia funciona elementar, meu caro Watson. Quando você exerce força
num músculo, ele precisa adaptar-se de alguma maneira. Se você pensar
no assunto, é a fundação do treino de força. Ao forçar o músculo a
adaptar-se a novos desafios, nós o encorajamos a ficar mais forte, na
preparação para encarar tais desafios.
Há mais de uma maneira dos músculos adaptarem-se, entretanto. Lembre do
seu vocabulário de grego do segundo grau por um instante, e vamos
definir alguns termos. Numa contração isotônica, a força de contração (o
tônus) permanece o mesmo ("iso"), e o comprimento varia. Esse é o tipo
de movimento muscular ao qual estamos familiarizados. Contrações
isotônicas são como fazemos todas aquelas coisas que requerem extensão e
encurtamento dos músculos, como andar ou pegar objetos. Você sabe,
coisas pequenas.
Contrações isométricas, entretanto, podem parecer um pouco mais
confusas. Como é que contraímos músculos sem movê-los ou mudar seu
comprimento ? Voltemos ao exercício do início do texto. Como as mãos
estavam pressionando-se mutuamente, o comprimento do músculo não poderia
mudar. Não havia como fazê-lo! Aqui, a força da contração muda enquanto
o comprimento ("métrico") continua o mesmo ("iso"). Nós usamos isso
todo dia sem pensar, para coisas como... ficar de pé. São as mudanças no
tônus dos nossos músculos que nos mantêm constantemente adaptados aos
arredores, de maneira que possamos vencer as demandas da gravidade.
Exercícios isométricos tomam vantagem dessas contrações tônicas para
construir força. Acredite ou não, eles são em alguns casos ainda mais
eficientes que os exercícios dinâmicos. Você pode realmente construir
força sem sequer mover-se. Em um estudo de 9 semanas, os participantes ficaram um pouco tortos ao
malhar um conjunto de quadríceps com isométricos, e o outro com
exercícios dinâmicos. Enquanto ambas as pernas tenham tido aumentos
similares na força dinâmica, a perna isometricamente treinada tem
aumentos significativamente maiores em força isométrica. Isométricos são
"2 pelo preço de 1".
Como isso é possível ? O treinamento isométrico trabalha no limite,
exercitando os músculos ao máximo e por períodos extensos de tempo.
Exercícios dinâmicos, por outro lado, produzem força por apenas frações
de segundos antes que a velocidade e a aceleração assumam. Como a tensão
intramuscular é maior e mantida por mais tempo que nos exercícios
dinâmicos, o treinamento isométrico tem resultados únicos.
O "pai da pliometria", o Dr. Yuri Verkhoshansky, supôs que uma contração
isométrica de 6 segundos é equivalente a numerosas contrações
dinâmicas. Quando você pára para pensar sobre isso, faz muito sentido.
Mais tempo em tensão máxima = maior taxa de aumento de força. É uma
lógica digna do Dr. Spock. Adicionando 10-20 segundos de tensão
intramuscular por sessão, então, pode ter um efeito surpreendentemente
grande nos ganhos de força (confira esse grande artigo para mais informação).
Isométricos tem outros benefícios divertidos. Estudos recentes mostraram que estes exercícios podem ajudar a reduzir a pressão sanguínea,
para começo de conversa. Mas há um monte de outros benefícios únicos ao
treinamento isométrico que funcionam em um nível mais sutil.
Isométricos requerem também que treinemos nossos cérebros, com uma
enorme quantidade de efeitos fantásticos. Vamos ficar um pouco "new age"
e falar de conexão mente-corpo em um minuto. Apenas tente pensar nisso
como um treinamento de força para o seu cérebro, te deixando mais
esperto e focado.
Em um nível básico, estes exercícios aumentam a nossa consciência
corporal. Para conseguir fazer isométricos, precisamos aprender como
mandar mensagens a músculos específicos do corpo. É fácil sair de
sintonia em um exercício dinâmico. Não importa o quão conscientes da
forma de execução nós sejamos, todo mundo já "desligou o cérebro" alguma
vez, para uma sessão de treino de força. Mas nótícias: com exercício
isométrico, isso não é mais possível. Fazer esse tipo de exercícios
significa ativar conscientemente os músculos. Você vai ter que pensar.
Você vai ter que usar seu cérebro.
Fazer isométricos, então, é um pouco como re-instanar a fiação elétrica
do seu cérebro. Ou melhor ainda, aumentar a velocidade da sua conexão
wi-fi. Você vai forjar e fortalecer novos padrões neuronais, cultivar
conexões mente-corpo podeorsas. À medida que nosso mundo torna-se mais e
mais orientado à tecnologia, nós tendemos a viver menos e menos nos
nossos corpos físicos. Treinamento isométrico nos trás de volta,
reconectando nossos cérebros com a incrível ferramenta que é nossa forma
humana.
A ciência suporta isso. Há uma pequena nota paralela nesse estudo,
que eu adoro porque ela conta uma história reveladora. Um dos sujeitos
começou o estudo incapaz de ativar seus quadríceps. Não conseguia
fazê-lo. Ele mandava a mensagem, e nada acontecia. Depois de completar o
programa de isometria do estudo, entretanto, ele era capaz de ativar
seus músculos quando desejava. O treinamento isométrico não apenas
fortaleceu seus músculos, mas também cultivou a conexão entre seu
cérebro e seu corpo. Outro estudo usou MRIs cerebrais para medir os
efeitos de exercícios isométricos e mostrou “evidências de mudanças na matéria branca e no putamen, em cérebros de adultos saudáveis, relacionadas ao treinamento de força.” Isométricos mudam seu cérebro. Isso é coisa de ficção científica, de Humanos 2.0.
Por mais intenso que isso possa soar, não é um conceito novo. Muitas
práticas de meditação ancestrais, tais como a hatha yoga o tai chi,
utilizavam exercícios isométricos mantidos por muito tempo, para afiar a
mente. Diferente dos exercícios dinâmicos, os isométricos não nos
oferecem quaisquer distração. Eles são auto-controntacionais. Não há
rota de escape, nenhum lugar para esconder-se de seus pensamentos – uma
situação rara em nossos super-estimulados dias de smartphone, Na
imobilidade de um exercício isométrico, incapaz de distrair-se com
movimentos ou de verificar seu Facebook, você repentinamente estará
sozinho consigo mesmo. Você estará sozinho com a decisão de abandonar a
postura ou ficar por mais algumas respirações. Você estará sozinho com
seus pensamentos e sentimentos.
Isso pode ser uma proposição assustadora. Ao longo do tempo, entretanto,
você pode conscientemente cultivar a mesma imobilidade por dentro, que
os isométricos cultivam por fora. Concentrando-nos nessas postura,
regulando a respiração, nós descobrimos que a mente em torna-se estável e
calma. Quanto mais forte esse estado mental, mais fortes somos no
exercício. Essa conexão mente-corpo cria um laço contínuo, com a mente
ficando mais forte com o corpo, e vice-versa. O resultado é um estado
mental calmo, que nos permite viver um pouco menos reativamente e um
pouco mais intencionalmente. E embora tudo isso pareça "papo de hippie",
na prática pdoe ter efeitos positivos enormes na sua vida.
Ok, chega de conversa. Hora da ação. Você tem muitos bons incentivos
para começar. Eu inclui aqui um pouquinho de malhação isométrica.
Lembre-se: esses exercícios são apenas um exemplo, e mal arranham a
superfície do variado e interessante mundo do treinamento isométrico.
Comece daqui... e explore!
Algumas dicas antes de você começar:
- Vá com força total. Faça com que cada contração seja o mais forte possível, sem desculpas. Um estudo de 2002 colocou 2 grupos de sujeitos praticando exercícios isométricos, um com 100% da contração isométrica voluntária máxima, e o outro a 60%. Enquanto ambos tiveram ganhos significativos em volume muscular, o grupo dos 100% teve ganhos muito maiores que os do grupo dos 60%. Vá com tudo, ou vá para casa (A única exceção é se você tiver pressão alta. Embora os exercícios isométricos demonstradamente reduzam a pressão sanguínea, exercitar-se num nível de intensidade alta pode causar aumentos dramáticos na pressão. Se você tem pressão alta, trabalhe com intensidades menores – ainda assim, você verá resultados!)
- Exercite-se de maneira inteligente. Dependendo de quais são seus objetivos, você vai querer usar os exercícios de maneiras diferentes. De acordo com o Dr. David Williams, "um número mais alto de contrações aumenta a força, enquanto manter as contrações por mais tempo aumenta a massa muscular". Se você quer crescer, manter a posição por longos tempos é o caminho a seguir!
- Mantenha a contração ativa. Embora isométricos passivos mantidos por bastante tempo possam aumentar a força, o seu treinamento será mais eficiente se você escolher isométricos ativos. Isométricos ativos exercem força para fatigar o músculo, o que ajuda a "desenvolver músculos e força muito mais rapidamente que isométricos passivos, como simplesmente manter uma posição", de acordo com o culturalista físico Jarell Lindsey. Pressionar contra o chão ou a parede pode aumentar o trabalho em isométricos passivos. No exercício mostrado abaixo, por exemplo, realmente forçar os calcanhares contra o chão é essencial.
- Respire. É sério. Há muitas maneiras de abordar a respiração. A coisa mais importante é mantê-la constante, completa e irrestrita. Se você não sabe por onde começar, aconselhe-se com alguém que saiba um pouco sobre respiração – praticantes de yoga. Os estilos vinyasa de yoga geralmente cultivam uma "respiração sem som", frequentemente chamada de respicação ujjayi ou "respiração oceânica". Cada inspiração e expiração acontece pelo nariz, deixando fluir pelo fundo da garganta para criar um som como o de ondas no mar (ou como o Darth Vader). Cinco respirações vão tomar cerca de 30 segundos. Concentrar-se na respiração dessa maneira não apenas te mantém seguro ao longo da malhação, mas também ajuda a cultivar uma mente forte e estável. Regra geral: quando você pára de respirar, foi longe demais.
A malhação
Flexões na parede: fique na posição para fazer um afundamento
(lunge) bem baixo, e ponha as mãos na parede à altura do peito.
Incline-se para a parede e empurre com toda a força. Se você escorregar
para trás, pode precisar usar sapatos com boa aderência. É muito
importante empurrar o mais forte que puder para fatigar o músculo. Tempo
a ser mantido: complete 2-3 repetições, com 30 segundos ou mais.
Descanse 45-60 segundos entre repetições.
Gun show: flexione os seus braços em um ângulo de 45 graus.
Imagine os seus bíceps ficado mais e mais contraídos à medida que
respira. Depois de completar a posição 1, passe para a seguinte,
erguendo os braços como na foto. Contraia o mais que puder, então
relaxe. Passe para a posição 3, contraindo o tanto quanto possível, e
relaxe. Tempo: mova-se com a respiração, mantendo cada posição por uma
longa inspiração e passando à próxima enquanto expira. Repita 2-3 vezes,
descansando por 20-30 segundos entre séries.
Extensões na parede: de pé, apóie as costas na parede. Incline-se
ao nível da cintura e ponha as partes externas dos seus punhos contra a
parede. Empurre a parede com toda sua força. Você vai perceber seus
tríceps inteiramente ativados. Tempo: complete 2-3 repetições, segurando
por 30 segundos ou mais, descansando por 45-60 segundos entre séries.
Flexões em "gol": Fique de pé, com as costas voltadas para a
parede, mas distante dela uns 3-5cm. Levante os braços até que estejam
paralelos ao chão. Apóie os cotovelos num ângulo de 90 graus. Seus
braços deve lembrar um gol (N.T.: o autor refere-se aqui às traves em
formato de H ou Y, usadas no futebol americano). Pressione os cotovelos e
antebraços contra a parede o mais forte que puder. Você deve sentir o
meio das costas – e se não, tente colocar os braços perpendiculares ao
solo, conforme mostrado na figura abaixo. Tempo: complete 2-3
repetições, mantendo por 30 segundos ou mais e descansando por 45-60
segundos entre repetições.
Abdominal isométrico básico ("O triângulo"): ativação maciça dos
músculos abdominais, enquanto se está "apenas sentado". Imagine um
triângulo formado por suas costelas flutuantes e ponto exatamente atrás
do seu umbigo. Sentado no chão, com a coluna ereta, exale para aproximar
as flutuantes da espinha e ativar os abdominais inferiores. À medida
que inalar, mantenha a ativação desse triângulo, segurando os ombros
baixos enquanto a caixa toráxica se expande. Tempo: complete 2-3
repetições, mantendo por 30 segundos ou mais, e descansando por 45-60
segundos entre repetições. Tente aumentar o tempo de ativação enquanto
progride, eventualmente completando uma repetição de 2-5 minutos
(construa isso lentamente).
Abdominal tartaruga: esse abdominal unicamente isométrico é uma
ativação extrema do triângulo. Se você não conseguiu sequer entender o
que era o triângulo anteriormente, certamente entenderá depois de
experimentar esse. Posicione-se no chão, de barriga para baixo, em
posição fetal. Seus braços estão cruzados à sua frente e descansam
contra seus joelhos e coxas, Use seus abdominais para curvar o tronco em
direção às coxas, enquanto usa seus braços como ponto de resistência.
Tempo: pressione o mais forte que puder por 30 segundos ou mais.
Complete 2-3 repetições, descansando por 45-60 segundos entre
repetições.
Prancha: provavelmente você está no mínimo um pouco familiarizado
com essa. Ponhas as mãos diretamente abaixo dos ombros, e extenda as
pernas para trás, de maneira que você fica como uma prancha – ombros,
quadris, joelhos e tornozelos numa única linha. Agora torne-a ativa,
pressionando com os pés, chegando o peito para frente e ativando o
"triângulo". Respire! Tempo: tente chegar a pelo menos 1 minuto. Repita
2-3 vezes, descansando 45-60 segundos entre repetições.
Flexão contida: da posição de prancha, expire e baixe para
flexão, mantendo os cotovelos fechados e olhando para a frente. Não
esqueça-se de continuar ativando o triângulo! Se você sentir qualquer
desconforto na base das costas, é porque perdeu o suporte abdominal, e é
hora de parar. Tempo: mire em no mínimo 30 segundos. Repita 2-3 vezes,
desncansndo por 45-60 segundos entre repetições.
Agachamento na parede: apoie as costas na parede, com os pés abertos na
largura dos quadris. Dobres os joelho, deixando as coxas paralelas com o
chão. Evite inclinar-se para a frente – mantenha o "core" ativado e o
esterno erguido. Pressione os calcanhares para baixo, contra o chão, e
tente juntar os pés um contra o outro, ativando a parte interna das
coxas. Tempo: mire em no mínimo 30 segundos. Repita 2-3 vezes,
descansando por 45-60 segundos entre repetições.
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