A Grande Vilã da Saúde: A Inflamação Silenciosa (Crônica)
Explicar o que é inflamação silenciosa, ou crônica, durante as consultas é uma tarefa muito difícil. No entanto, é de extrema importância que se tente entender um pouco sobre esse conceito, já que ele está envolvido na origem de doenças muito comuns e que causam grandes danos à saúde. O que ele tem a ver com longevidade? Tudo! Até há um termo bem atual que o relaciona ao envelhecimento precoce: inflamm-aging.
Quando se fala em inflamação, a primeira idéia que nos vem à cabeça é aquilo que acontece em alguma parte do corpo (músculo ou joelho, por exemplo) após uma batida ou arranhão… Inchaço, dor, vermelhidão e calor são os sinais clássicos de um processo inflamatório agudo e localizado. É como se essa parte do corpo começasse a pegar fogo – e inflamação no latim significa algo muito parecido mesmo: “atear fogo”. É tão comum sabermos disso que, para tratar uma batida dessas, usamos, geralmente por conta, medicações chamadas “antiinflamatórios”. Essa resposta do corpo nada mais é do que uma reação das células de defesa para reparar os tecidos que se machucaram na batida, ou mesmo para combater uma infecção, eliminando as bactérias nocivas.
Porém, não é bem desse tipo de inflamação localizada e benéfica (porque nos repara) que pretendo falar, mas sim de um processo que acomete o corpo todo, chamado de inflamação silenciosa, ou crônica. E quando falo corpo todo, não estou exagerando: até nosso cérebro é acometido!
Nesse tipo de inflamação, uma série de substâncias nocivas circula pela corrente sanguínea, causando danos em diversos órgãos. Fazendo uma analogia, é como se o corpo todo estive pegando fogo, porém numa temperatura mais baixa em relação àquela da inflamação aguda da batida do joelho. Na inflamação crônica, o nosso sistema imunológico é ativado, porém não há propriamente uma ameaça real para combater. Logo, o próprio corpo acaba sofrendo efeitos adversos dessa atividade que, acumulados ao longo de anos, ocasionam problemas sérios. É a inflamação crônica, por exemplo, que “pega” o colesterol da corrente sanguínea e o prende à parede das artérias, causando infarto, derrame e insuficiência cardíaca.
Recentemente, a pesquisa da inflamação silenciosa tem sido recomendada em tratamentos para colesterol elevado (dislipidemia) e até mesmo depressão. Dependendo do resultado dos exames, o médico deve seguir rumos diferentes.
A inflamação crônica causa ou agrava as seguintes doenças:
• Aterosclerose (placas de gordura nas artérias)
• Infarto Agudo do Miocárdio
• Acidente Vascular Cerebral
• Insuficiência Cardíaca
• Doença de Alzheimer e outros tipos de demências
• Depressão
• Hipertensão
• Doença de Parkinson
• Diabetes tipo 2
• Fome em excesso e obesidade
• Fadiga Crônica
• Apnéia do Sono
• Esteatose Hepática (doença do acúmulo de gordura no fígado) e Hepatite
• DPOC (Bronquite e Enfisema)
• Asma
• Artrite Reumatóide e outras doenças auto-imunes
• Doenças intestinais
• Osteoporose
• Osteoartrite (Artrose)
• Envelhecimento precoce (principalmente das células de defesa)
• Atrofia muscular
• Impotência sexual
• Insuficiência renal
• Diminuição na testosterona/ DAEM
• Todos os tipos de câncer – lembre-se sempre: as células cancerígenas adoram inflamação!
Mas o que causa essa inflamação silenciosa?
Basicamente, a inflamação silenciosa tem sua origem no estilo de vida inadequado. O consumo de certos alimentos (gorduras nocivas e excesso de carboidratos), o sedentarismo (pouca atividade física) e o estresse são fortemente relacionados com a ativação da inflamação crônica. Não se pode esquecer do tabagismo, da poluição atmosférica e do alcoolismo como outros importantes precipitadores.
O sobrepeso e a obesidade são duas condições cada vez mais comuns e que estão relacionadas também à inflamação crônica. Ao contrário do que muitos pensam, a gordura acumulada no corpo não representa apenas prejuízo estético, ela é extremamente nociva por produzir substâncias inflamatórias e que desregulam todo o sistema hormonal e metabolismo. Algumas infecções, como gengivites, também disparam o gatilho da inflamação, devendo sempre serem investigadas e tratadas. Em atletas de ponta – como os do futebol – que costumam se lesionar repetidamente têm sempre sua condição odontológica avaliada, em busca de um processo inflamatório “escondido”. Tratando as doenças da boca, as lesões musculares costumam cessar.
Como eu detecto a inflamação crônica?
Consegue-se detectar a inflamação crônica através de alguns exames de sangue. Em nosso meio, o mais acessível é a Proteína C-Reativa Ultrasensível. Quando ela está presente, alguns outros exames costumam vir elevados: ferritina, fibrinogênio, VSG, triglicérides, insulina e homocisteína.
Deve-se evitar coletar o exame de Proteína C-Reativa Ultrasensível após exercícios físicos intensos ou quando da presença de gengivite, resfriados ou uso de medicamentos anti-inflamatórios ou que contenham corticóide.
Confirmar o exame através da repetição é uma prática que considero adequada.
Como se trata a inflamação silenciosa/crônica?
Apesar de sabermos na medicina sobre o papel da inflamação na origem de tantas doenças graves, pouca importância é lhe dada no dia-a-dia do consultório. Uma explicação para esse descuido pode ser a falta de tempo e paciência nas consultas (tanto na parte do médico quanto do paciente). Falo em falta de tempo e paciência porque, como vimos, tratar as causas da inflamação implica em orientar o paciente a uma mudança em seu estilo de vida (atividade física, alimentação e bem-estar mental), o que é muito difícil, demandando dos pacientes muita força de vontade para viver.
Fica claro, então, que uma alimentação saudável, rica em alimentos naturais que combatam a inflamação é fundamental. Atividade física diária e variada e o sono reparador também reduzem os marcadores de inflamação. Evitar o estresse e tratar doenças como a depressão fazem parte da abordagem.
Existem alimentos ricos em substâncias que auxiliam no tratamento, bloqueando os efeitos epigenéticos da inflamação silenciosa (inflammaging), entre eles destaco o ômega-3, a cúrcuma, o resveratrol e o chá verde, além das fibras.
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