mudança de status jurídico
Em decisão histórica França altera Código Civil e reconhece animais como seres sencientes
03 de fevereiro de 2015 às 14:37
Por Alex Avancini (da Redação)
Animais têm
sentimentos. É o que reconhece o parlamento francês a partir desta
quarta-feira (28) após um ano de intensos debates na Assembleia
Nacional. Finalmente o parlamento votou a leitura final do projeto de
lei sobre a modernização do código civil idealizado pela ONG Fondation 30 Million Amis
que altera o status jurídico dos animais no país, atualizando a
legislação penal vigente e reconhecendo os animais como seres
sencientes (novo artigo 515-14) e não como propriedade pessoal como o
antigo artigo (artigo 528). Desta forma, os animais não são mais
definidos por valor de mercado ou de patrimônio, mas sim pelo seu valor
intrínseco como sujeito de direito. Segundo a ONG idealizadora do
projeto, esta virada histórica coloca um fim a mais de 200 anos de uma
visão arcaica do Código Civil francês em relação aos animais. Finalmente
os parlamentares levaram em conta a ética de uma sociedade do século
21.
O Código
Civil da França foi elaborado por Napoleão em 1804 e os animais eram
considerados como bens de consumo, principalmente para trabalho forçado
em fazendas. Até então, a representatividade legal dos animais na França
perante os tribunais era mínima.
Segundo o jornal The Local,
a França obtém um poderoso lobby agrícola, a FNSEA, juntamente com
alguns políticos pressionavam o parlamento expressando preocupação de
que a mudança na legislação poderia prejudicar os interesses dos
agricultores e criadores de gado particulares.
A vitória
abre importante precedente para a vida dos animais no território e um
respiro para as organizações protetoras da causa animalista.
Por definição, senciência é
a capacidade de sentir, atribuição dada pelos especialistas há muito
tempo aos animais. O parlamento francês finalmente percebeu algo que
muitas pessoas já sabiam: os animais são capazes de vivenciar seus
próprios sentimentos: Dor, amor, felicidade, raiva, alegria, amizade e
tantos outros. A diferença agora é que este direito é reconhecido de
forma legal no código civil do país.
Um pouco antes, o Supremo Tribunal de Justiça da Argentina também declarou parecer favorável aos direitos animais, concedendo a uma orangotango chamada Sandra, o status de “pessoa não-humana”, um exemplo para toda a América Latina.
Outras nações podem se espelhar nestas mudanças e desencadear ações que
abracem os animais como sujeitos de direitos perante os tribunais.
A mudança não foi fácil e só veio depois de duros empurrões dados pela Fondation 30 Million Amis
(Fundação de 30 milhões de amigos), principal organização francesa no
auxílio do projeto apresentado ao parlamento e cujo presidente Reha
Hutin trouxe a público a atual situação dos animais na França, dizendo:
“O país está para trás no que se refere a leis de bem-estar animal.”
Uma
coisa é certa, reconhecendo os animais como seres sencientes a França dá
um passo na direção correta, mas o país ainda tem muito trabalho a
fazer para se desvincular da má fama perante os animais, já que uma
proposta para proibir as touradas foi rejeitada em 2012 e o país ainda é
considerado a capital número um de produção de foie gras no mundo.
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