Cortar gordura não faz perder mais peso que outras dietas
30 nov 2015
19h41
atualizado em 1/12/2015 às 08h58
Dietas com baixa ingestão de gordura não levam a uma perda de peso
maior que as outras, como aquelas com baixo consumo de carboidratos.
Essa é a conclusão de uma grande metanálise (estudo que integra os
resultados de várias pesquisas sobre uma mesma questão) envolvendo mais
de 68 mil adultos. O trabalho, feito nos Estados Unidos, foi publicado
na revista científica
The Lancet Diabetes & Endocrinology
.
Segundo os especialistas envolvidos no estudo, nenhuma dieta baseada no
consumo de proporções específicas de calorias provenientes dos três
grupos de alimentos – carboidratos, proteínas e gorduras – funciona a
longo prazo.
Sem evidências
O estudo foi liderado por Deirdre Tobias, da Escola de Medicina de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos.
"Não há evidências positivas a favor de dietas com baixo consumo de gordura", disse a pesquisadora.
Um grama de gordura contém mais do que o dobro das calorias contidas em
um grama de carboidratos ou proteínas, explicou a médica.
"Então, a lógica é: reduzir a ingestão de gordura levaria naturalmente à
perda de peso. Mas nossas evidências claramente indicam que isso não
acontece."
Tobias e seus colegas fizeram uma revisão sistemática de 53 estudos que
compararam a eficácia de dietas com baixa ingestão de gordura a outras
dietas – incluindo aquela em que não há restrições.
O objetivo era avaliar a capacidade da dieta com pouca gordura de levar
à perda de peso a longo prazo (pelo menos um ano) em participantes
adultos.
Os especialistas levaram em conta a intensidade das dietas, que
envolviam desde simples instruções em uma folha de papel até programas
intensivos para emagrecimento incluindo sessões de terapia, anotações
diárias em um caderno e aulas de culinária.
Concluída a análise, os pesquisadores verificaram que não houve
diferença na média de perda de peso entre dietas com pouca gordura e
dietas com mais gordura.
Cortar a gordura, o estudo concluiu, só é mais eficaz do que simplesmente não fazer dieta alguma.
Além disso, produziu menos perda de peso do que cortar carboidratos –
embora a diferença seja muito pequena (pouco mais de um kg), informaram
os autores.
"A ciência não endossa dietas com pouca gordura como melhor estratégia
para perda de peso a longo prazo", disse Tobias. "Para controlarmos a
epidemia de obesidade, vamos precisar de mais pesquisas para identificar
melhores abordagens."
O desafio, disse a pesquisadora, é não apenas perder peso, mas mantê-lo baixo a longo prazo.
"Temos de ir além das proporções de calorias vindas de gordura,
carboidratos e proteína para discutir padrões saudáveis de alimentação,
alimentos integrais e tamanhos das porções", disse Tobias.
"Encontrar formas de melhorar a adesão a dietas a longo prazo, e de
evitar o ganho de peso, em primeiro lugar, são estratégias importantes
para que tenhamos um peso saudável", concluiu.
Doença Crônica
Márcio Mancini, endocrinologista e membro da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia (SBEM), disse à BBC Brasil não haver
surpresas nas revelações do estudo norte-americano.
"Dietas, isoladamente, são inefetivas para a média. Não vou dizer que
não se deve tentar, mas a maioria dos pacientes vai necessitar de algo
mais."
Na opinião do brasileiro, esse "algo mais" é o medicamento. Segundo
ele, a obesidade é um problema crônico, e demanda o uso de estratégias
semelhantes às usadas no tratamento de outras doenças crônicas, como o
diabetes e a hipertensão.
"Hoje, as diretrizes da sociedade médica americana (para o tratamento
da obesidade) são receitar o remédio já na primeira consulta", disse.
"Que é o que se faz em tratamentos para hipertensão, por exemplo.
Ninguém mais diz, 'reduz o sal e vamos ver como está a pressão daqui a
três meses'".
"É remédio na primeira consulta, trata-se de um problema crônico", reforçou.
Médicos do serviço nacional de saúde do Reino Unido – o NHS –, por
outro lado, sugerem que outras estratégias devem ser adotadas antes do
remédio.
O serviço recomenda, além de dieta e exercícios, que o paciente procure
grupos de apoio na comunidade. No Brasil, há os Comedores Compulsivos
Anônimos, entre outros serviços de ajuda.
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