TRIBO FORTE #009 – ABSURDOS NAS DIRETRIZES ALIMENTARES, ALZHEIMER’S E ALIMENTAÇÃO, FERRITINA ALTA E MAIS
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No Episódio De Hoje:
Hoje temos 2 assuntos quentes e polêmicos:
- Primeiro, será que as diretrizes alimentares geraisdivulgadas pelos governos podem realmente estar tão erradas e continuarem enfatizando coisas que estão comprovadamente erradas? Qual a bola da vez?
- Segundo, doença de alzheimers, seria possível termos grandes chances de prevenir este mal tão difícil e para as pessoas que já têm a condição, seria possível retardar seu desenvolvimento e talvez até revertê-lo?
- Uma pequena aula sobre o problema da Ferritina Alta.
- E ainda temos os quadros Alimentos do Dia e “O que vc comeu no almoço de ontem“…
Ouça o Episódio De Hoje:
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Referências do episódio
Transcrição Completa Do Episódio
Rodrigo Polesso: Você está ouvindo o podcast oficial da Tribo Forte, com o Rodrigo Polesso e o Dr. Carlos Souto. Assuntos como emagrecimento, saúde, alimentação e estilo de vida são tratados de forma imparcial doa a quem doer. Para se tornar um membro da Tribo Forte, entre em TriboForte.com.br. Olá, bom dia! Bem-vindo à sua hora semanal dedicada à sua saúde, bem-estar e estilo de vida. Você está ouvindo o episódio número 9 do podcast oficial da Tribo Forte. Obrigado por fazer parte desse movimento e nos ajudar a criar uma Tribo gigante e Forte de pessoas interessadas em qualidade de vida. Espalhamos a verdade sobre a saúde e desmantelamos as informações tendenciosas que estão expostas todos os dias por aí. Esse movimento já passou do ponto de voltar atrás. Só vamos crescer exponencialmente daqui para frente. Nos ajude a espalhar tudo isso. No episódio de hoje temos dois assuntos polêmicos, além dos assuntos menores que colocamos no meio dos episódios. O primeiro assunto que vamos tratar hoje é: será que as diretrizes alimentares gerais divulgadas pelos governos podem realmente estar tão erradas em continuar enfatizando coisas que são comprovadamente erradas? Segundo: doença de Alzheimer. Seria possível nos prevenir contra esse mal tão difícil e triste? Para as pessoas que já têm essa condição, seria possível retardar o desenvolvimento e talvez até reverter o processo? Ainda teremos os quadros “Alimento do Dia” e “O Que Você Comeu no Almoço de Ontem?” Eu quero dar um bom dia e boa tarde para o Dr. Souto. Como está, Dr. Souto?
Dr. Souto: Boa tarde. Tudo certo. Estamos no meio de um feriadão aqui no Brasil mas isso não nos impedirá de gravar nosso podcast, que é sagrado.
Rodrigo Polesso: Sagrado, semanalmente. Como de praxe, temos uma pergunta da comunidade. O assunto é ferritina alta. Quem nunca ouviu falar, vai entender o que é isso agora. A pergunta é a seguinte: “Com tanta carne, minha ferritina não vai ficar alta? Isso não aumenta minhas chances de doenças cardiovasculares?”
Dr. Souto: Vamos dividir essa resposta em duas. A primeira é: que “tanta carne” é essa? Na realidade, eu continuo comendo a mesma quantidade de carne que eu comia 5 ou 10 anos atrás.
Rodrigo Polesso: Sempre falamos que não importa a dieta que fazemos, tendemos a manter o consumo de proteína constante.
Dr. Souto: Exatamente. Eu não como carne vermelha todos os dias. Têm dias que como peixe, tem dias que como frango. Alguma fonte de proteína todos nós temos que consumir. A proteína não é opcional. Carboidrato é opcional. Cada um de nós vai consumir a fonte de proteína que prefere. Mas a ideia de que tem que se comer muita carne em uma dieta low-carb ou paleolítica simplesmente não é verdade. A pessoa tem que dar uma revisada nos conceitos. Há alguns meses atrás eu fiz uma postagem sobre os vegetais de baixo amido (vegetais foliosos, como alface rúcula, couve, espinafre). Esses vegetais podem ser consumidos de forma ilimitada; só fazem bem. E existe um outro conjunto de vegetais, que embora tenham uma certa quantidade de amido, a quantidade é baixa (pimentão, cebola, tomate, abobrinha, aspargo, brócolis, couve-flor). Esses vegetais podem feitos na manteiga e servidos com uma fonte de proteína (peixe, carne). A segunda parte da resposta é mais técnica. O que é a ferritina? É um exame que está associado ao risco cardiovascular. Qualquer coisa feita de ferro enferruja. O que é enferrujar? É a oxidação do ferro. O ferro se liga ao oxigênio e então enferruja. O corpo usa essa propriedade do ferro de ter uma atração pelo oxigênio justamente para carregar oxigênio no sangue. Nosso sangue é muito rico em ferro. Quem já mordeu a língua já sentiu aquele gosto característico de ferro no sangue. Então, ele transporta oxigênio dos pulmões até os tecidos. Mas se tivermos excesso de ferro no organismo, isso aumenta as chances de termos oxidação no corpo. Oxidação em excesso não é uma coisa boa. Na realidade, nós vivemos num equilíbrio entre precisarmos do oxigênio (porque extraímos energia através da oxidação da glicose, da gordura e dos alimentos) e a toxicidade das reações de oxidação. São tão tóxicas que os organismos anaeróbios (aqueles que não utilizam oxigênio) podem ser mortos pelo oxigênio. Por isso passamos água oxigenada nos ferimentos – para matar os organismos anaeróbios. Já nós, que temos o organismo fundamentalmente aeróbio, temos antioxidantes e mecanismos que ajudam a controlar o dano que o oxigênio provoca no corpo. Mas se tivermos um excesso de ferro, esse balanço pode ficar desiquilibrado. Por que a ferritina estaria alta? É comum que as pessoas acreditem que a ferritina (que é uma proteína que se liga ao ferro) está alta porque a pessoa está comendo muita carne. A carne é, de fato, rica em ferro. Ela é vermelha pelo mesmo motivo pelo qual o sangue é vermelho. A carne é a melhor fonte de ferro da nossa dieta. Por falar nisso, vou abrir um parêntese: não precisa comer feijão para se conseguir ferro. A carne vermelha é uma fonte infinitamente melhor de ferro. É tão melhor, que às vezes pode ser excessiva. A grande maioria das pessoas que têm ferritina elevada não têm ferritina elevada porque estão consumindo muito ferro. Elas têm ferritina elevada por dois motivos. Um deles é uma doença genética chamada hemocromatose que podemos herdar um alelo de um dos pais (ou na forma mais severa pode ser herdada do pai e da mãe, na forma homozigota). A hemocromatose é quando o corpo absorve ferro com muita afinidade. Nós temos formas de absorver o ferro mas não temos formas eficientes de eliminar o ferro. Nas mulheres em idade reprodutiva a menstruação facilita a eliminação do ferro, mas o homem não tem esse mecanismo. Então, se o ferro se acumular, ele pode se acumular no fígado, no baço. Em situações de hemocromatose homozigota (a mais severa), isso pode levar à cirrose hepática por excesso de ferro no fígado. Suspeitamos de hemocromatose quando a ferritina está muito alta. A ferritina normalmente varia de um laboratório para outro e varia entre homens e mulheres, mas é algo na faixa de 200. Se uma pessoa tem 300 ou 350 de ferritina, isso normalmente não é hemocromatose. Acima de 1000 de ferritina normalmente será hemocromatose. A hemocromatose em geral é investigada pelo hematologista que vai fazer alguns exames mais aprofundados inclusive a testagem genética para a mutação da hemocromatose. Então, a hemocromatose não tem muito a ver com a dieta. Se a pessoa portadora dessa doença comer uma dieta mais pobre em ferro terá a ferritina elevada da mesma forma. Parece com aquela história que já comentamos sobre o HDL ser alto demais por causa de uma mutação. Em geral, quando as doenças são genéticas, o tratamento não tem a ver com dieta. Qual é o motivo mais comum de ferritina elevada, então? Hoje, com a proliferação da síndrome metabólica, da resistência à insulina e da obesidade, a causa mais comum de ferritina elevada tem a ver com gordura no fígado (esteatose). A ferritina está presente nas células do fígado. Quando essas céluas adoecem e morrem, elas liberam a ferritina que está contida dentro delas. Ou também doenças inflamatórias crônicas como artrite reumatoide, doenças autoimunes mais graves que produzem a elevação da ferritina. Então, quando temos uma ferritina alta, a última coisa que vou pensar é que isso tem a ver com a carne na dieta. Quando a ferritina está muito alta, a primeira coisa que devemos fazer é enviar o paciente para um hematologista para fazer a investigação. Se o paciente for portador de hemocromatose, o tratamento é feito com sangrias terapêuticas. Na realidade, sangria é uma doação de sangue, só que o sangue é jogado fora. A pessoa faz isso mais ou mais a cada 15 dias e tira sangue até normalizar os níveis de ferro e de ferritina. Depois de excluir hemocromatose, devemos investigar gordura no fígado, síndrome metabólica, doenças inflamatórias. E essas coisas que eu citei por último melhoram muito com uma dieta de baixo carboidrato, de comida de verdade, tirando farináceos e açúcar. Com isso, a gordura no fígado começa a diminuir e aí a ferritina tende a normalizar também. Naqueles casos onde tudo isso já foi excluído e a ferritina segue alta, aí pode ser o caso de reduzir um pouco a carne vermelha. A pessoa não precisa eliminar a carne vermelha da sua dieta. Então, essa ideia que nosso ouvinte colocou na pergunta está equivocada, mas ele pergunta isso porque os profissionais médicos acham isso. Quando você chega num médico com ferritina alta ele vai perguntar se você come muita carne, sendo que essa deve ser a quinta causa a se pensar depois de se excluir causas mais comuns.
Rodrigo Polesso: Esse assunto acabou se tornando um dos assuntos principais do podcast. Vale entender bem essa questão da ferritina. Essa lógica de “carne tem ferritina e estou com ferritina alta; logo estou comendo carne demais” está errada, apesar de fazer sentido. As pessoas entendem facilmente essa lógica e acham que esse é o fim da discussão. Mas isso muitas vezes é causado pelas mesmas causas da síndrome metabólica – ou seja, não tem nada a ver com carne. Como o Dr. Souto falou, o problema ou é genético… como se chama o problema?
Dr. Souto: Hemocromatose. O problema é a ferritina, mas não é o ferro na dieta.
Rodrigo Polesso: Ou um problema no fígado, causado pela síndrome metabólica, pelos hábitos alimentares; ou uma parcela minúscula da população que pode se beneficiar prestando atenção na ingestão da ferritina. Mas esse seria um caso extremamente raro. Então, em outras palavras, para uma pessoa normal, o consumo de carne (de acordo com a filosofia alimentar paleo ou low-carb) não está relacionado a índices anormais de ferritina no sangue. Espero que o pessoal tenha capturado essa mensagem. É mais uma daquelas falácias que escutamos muito por aí. As pessoas entendem isso de forma errada e passam para frente. O primeiro tópico que trataremos hoje é sobre a disseminação em massa de diretrizes alimentares. Já passamos em episódios anteriores que a primeira diretriz alimentar divulgada em massa nos Estados Unidos da década de 70 foi um grande erro baseado mais em interesses políticos do que conhecimentos científicos. Isso vem se agravando cada vez mais e as coisas não mudam. Focaremos agora nas diretrizes alimentares americanas, que vêm sido revisadas a cada 5 anos. Ou seja, no ano passado elas foram revisadas e as atuais valem até 2020. Tem um artigo bem recente intitulado “Diretrizes Alimentares Americanas: Uma Área Sem Evidências”. Isso foi publicado nos anais da medicina e escrito por Steven Nissen, que é Chefe do Departamento de Cardiologia da Cleveland Clinic – ou seja, é uma pessoa bastante respeitada. Ele fala o seguinte no começo do artigo: Em 7 de janeiro de 2016, o departamento americano de saúde e o departamento de agricultura lançaram as famosas e famigeradas diretrizes alimentares para os americanos que valem de 2015 a 2020. O relatório preliminar, lançado em fevereiro de 2015, recebeu uma atenção da mídia ao reverter uma diretriz de décadas sobre o colesterol – ele foi tido como nutriente que não teria problema algum em se consumir demais. O dogma de se “evitar colesterol nos alimentos, por se elevar colesterol no sangue” foi alterado, dizendo que o colesterol é um nutriente que não há problema de se consumir demais na dieta. Inacreditavelmente, no relatório de final de 2015, essa diretriz que havia sido revertida, sumiu! Daí, eles voltaram a repetir o que eles falavam até então: “os indivíduos devem comer a menor quantidade possível de colesterol através dos alimentos”. Em qual versão das duas devemos acreditar? Como o comitê de revisão pode chegar numa conclusão completamente oposta no mesmo ano? Como isso é possível? Isso é problemático por alguns fatores. Primeiro; essas são as diretrizes alimentares dos Estados Unidos. Mas sabemos muito bem que elas não se limitam aos Estados Unidos porque muitos países se inspiram nessas diretrizes para criarem as suas próprias diretrizes. Se os Estados Unidos continuarem dessa forma, outros países continuarão dessa forma. Outro grande problema: segundo o artigo do Steven Nissen, essas diretrizes alimentares são baseadas em estudos observacionais e consensos de experts e não em conclusões derivadas de ensaios clínicos randomizados. Ou seja, em outras palavras, são mais embasadas em “achismos”, “tendencionismos”, observações e associações do que em fatos e evidências, por incrível que pareça. Lembrando que isso tudo é disseminado para a população inteira como guia. Dr. Souto, como você acha que eles mudaram completamente o que eles disseram na versão preliminar dessa revisão em comparação com a versão final? O pior de tudo é que até 2020 tudo isso será vigente e sem revisão.
Dr. Souto: Na verdade, isso corrobora aquilo que nós conversamos na semana passada. O que existe é uma ortodoxia inexplicável. É uma peculiaridade da nutrição. O resto das ciências da saúde evoluem de acordo com as evidências. Só a nutrição mantém uma ortodoxia “semi-religiosa” e protege seus dogmas por décadas e décadas. Quando as evidências mostram que esses dogmas estão errados, eles enterram as evidências. O Steven Nissen não é o Souto e o Rodrigo. Ele é o chefe da cardiologia da Cleveland Clinic, que é o centro de pesquisa e tratamento de doença cardiovascular número 1 dos Estados Unidos. É o local mais importante do mundo para tratamento de doença cardiovascular, e ele é o chefe deste local. Não é um sujeito que pratica “medicina alternativa”. O tom desse editorial que ele escreveu nesse periódico médico é um tom de quem está bravo. A coisa chegou num ponto que até o Steven Nissen escreveu esse edital. O termo que ele usa é maravilhoso: “zona livre de evidências”. Me lembra de quando anunciaram que o Brasil estava livre de aftosa. Ele diz que as diretrizes nutricionais fazem parte de uma zona livre de evidências. Ou seja, os dogmas deles estão protegidos, pois dentro daquela zona das diretrizes nutricionais as evidências não entram.
Rodrigo Polesso: Liberdade de expressão total.
Dr. Souto: Por um lado é terrível ver que as coisas estejam assim. Por outro lado, é muito auspicioso ver que alguém de peso institucional, como o Dr. Nissen, escreve um editorial nessas palavras. Eu traduzi esse texto na íntegra e devo colocar no blog até amanhã. A única coisa que podemos fazer é ficarmos indignados, e tentar divulgar para as pessoas aquilo que mudou nos últimos 40 anos. As diretrizes dos anos 70 dizem basicamente as mesmas coisas que dizem hoje.
Rodrigo Polesso: A área da nutrição é bastante séria. Ela é crucial para nossa saúde. Como que essas coisas são aceitas por países sérios? Sempre falamos que disseminam informações erradas em massa, e essa é a prova de que isso realmente acontece! O pior de tudo é que é muito fácil de se achar provas cabais de que estas diretrizes estão erradas. Estamos focando agora na questão do colesterol. O colesterol que você ingere nos alimentos não influencia seu colesterol do sangue. Isso é um fato – é fácil de se achar estudos que provam esse tipo de coisas. O interessante da revisão é que na preliminar isso foi mudado, mas na versão final isso foi retornado à mesma diretriz de sempre. Isso nos faz pensar que outros interesses (que não a saúde pública) têm mais força de influência nessas diretrizes publicadas.
Dr. Souto: Não surgiu nenhum estudo novo revolucionário que tenha provado que o colesterol na dieta tenha qualquer problema. Desde de os anos 50 que se sabe que não tem problema. Então, por que a preliminar mudou tanto em comparação com a diretriz oficial? O que mudou não foi a ciência, foi a política. Isso é muito claro. As pessoas têm que saber que a nutrição é uma coisa peculiar. É como se fosse a Twilight Zone. Existe um campo de força que deixa as evidências científicas e os ensaios clínicos randomizados fora da nutrição. A boa ciência está atualizada só no resto das ciências da saúde e da medicina. Na nutrição, se quisermos saber alguma coisa, nós teremos que ir atrás dos ensaios clínicos randomizados. Como dizia Max Planck, “toda essa geração de nutricionistas tem que se aposentar e morrer” para que uma nova geração que não esteja influenciada por este dogmatismo semi-religioso assuma e se baseie em evidências como o resto da medicina se baseia. Eu escolho qual é o melhor quimioterápico para tratar um determinado tipo de câncer não através da opinião majoritária das pessoas, muito menos por ser o tratamento que era recomendado nos anos 70. Os tratamentos contra o câncer são recomendados porque os ensaios clínicos randomizados mais recentes compararam este tratamento com tratamentos anteriores e mostraram que este é superior. Assim funciona em toda medicina, com exceção da nutrição. A nutrição é um caso a ser estudado. Eu imagino que no século 22 nós vamos olhar para trás e entenderemos a cegueira coletiva que tomou conta dessa área da ciência. Vamos ser francos: nem podemos chamar de ciência. É um fenômeno político e sociológico o que a nutrição vive nos últimos 40 ou 50 anos.
Rodrigo Polesso: É tão absurdo que podemos chamar de velho-oeste cheio de cowboys. Quem tem a maior arma tem a maior influência. É um absurdo. Acho que no futuro vamos ridicularizar essa época. Existem ensaios clínicos randomizados que mostram o oposto do que essas diretrizes falam. Um dos exemplos disso é o PREDIMED, que foi patrocinado pelo governo espanhol e publicado em 2013. Foi um estudo grande que poderia ter sido usado para embasar a questão preliminar do reporte de fevereiro. Existem ensaios clínicos randomizados que comprovam que tudo isso que as diretrizes estão falando é falso. Ou seja, não é por falta de esforço, falta de tecnologia ou falta de controle. É falta de vergonha na cara para se assumir que o ego é menos importante que a saúde pública.
Dr. Souto: Eu discuti sobre o PREDIMED no meu blog na época que ele foi publicado. Ele foi um ensaio clínico randomizado que comparou a dieta de baixa gordura recomendada pelas diretrizes atuais versus dois tipos de dieta mediterrânea com alta gordura – em uma a gordura era fornecida na forma de azeite de oliva extra virgem e a outra na forma de nozes e castanhas. As duas de alta gordura foram superiores. Houve 30% mais de mortes cardiovasculares no grupo que recebeu a dieta de baixa gordura. Esses ensaios clínicos randomizados são o maior nível de evidência. É criminoso recomendar uma dieta de baixa gordura nos dias de hoje. Eu acho que é possível discutir quais são as gorduras melhores. Estou pronto para aceitar que uma dieta rica em gorduras seja melhor quando é rica em gorduras insaturadas, por exemplo. Acho que ninguém discute que azeite de oliva, abacate, nozes, castanhas e peixes são saudáveis. Talvez a gordura saturada da carne não seja a mais saudável. Eu a considero neutra no ponto de vista de saúde. Eu acho que ela não vai te ajudar a viver até os 100 anos, mas se ela entrar na dieta para substituir farinha e açúcar, será muito melhor.
Rodrigo Polesso: Neutra significa que não vai melhorar em piorar. Temos que ter bastante cuidado com o que assumimos como verdade. Antes de partimos para o próximo assunto, que é o assunto do Alzheimer, vamos falar do Alimento do Dia: couve-de-folhas (kale). Ela é da mesma família do repolho, do brócolis, da couve-flor. É um dos alimentos mais nutritivos que existem do reino vegetal. Ele é uma incrível fonte de vitamina K1 e vitamina C. Ele é muito usado na América do Norte para se fazer sucos verdes, até porque ele não é amargo como muitas folhas verdes. Você pode colocar uma fruta junto com ele para aproveitar toda essa densidade nutricional através de um suco.
Dr. Souto: Acho que no Brasil a forma mais consumida (e por sinal muito gostosa) é a couve mineira, que é aquela couve cortada bem fina e refogada com bacon e cebola – fica espetacular.
Rodrigo Polesso: É um alimento extremamente nutritivo, pessoal. Você pode introduzi-la na sua dieta na forma refogada com um bacon, como o Dr. Souto falou. Você também pode toma-lo de forma bem prática fazendo um suco verde. Vou colocar um link abaixo do podcast com mais benefícios da couve-de-folhas. É mais uma sugestão bacana de alimentos que você pode adicionar à sua dieta. Você pode sempre tornar seu estilo de vida mais flexível, saboroso e divertido. O nosso próximo assunto é o Alzheimer. Um artigo publicado no dia 12 de abril no Jornal da Doença de Alzheimer. A grande sacada do artigo é ligação fortíssima que existe entre a alta insulina no sangue (diabetes e outros problemas relacionados) com o desenvolvimento da doença de Alzheimer. Ela diz que muitos estudos que avaliam o Alzheimer retiram pessoas que têm outras condições de saúde para poder “isolar” as pessoas que têm Alzheimer para poder avalia-las melhor. Mas isso foi um erro mortal para se identificar a verdadeira causa do Alzheimer. Essa professora resolveu contabilizar essas outras condições também. E ela percebeu uma ligação muito forte entre hiperinsulinemia (níveis altos de insulina no sangue) com o desenvolvimento de Alzheimer. Sabemos que Alzheimer é uma das doenças mais difíceis e tristes que existem hoje em dia. E é um mal que está aumentando e não diminuindo. Imagine que isso seja algo que possa ser prevenido em uma grande parte dos casos. Imagine que pessoas com essa condição possam retardar o progresso da doença. A professora Melissa disse que talvez seja possível até mesmo reverter a situação. Isso é bombástico! Isso é muito grande! A causa disso pode ser a mesma de muitos outros problemas que temos falado aqui – a síndrome metabólica. Dr. Souto, você poderia explicar a parte mais técnica de como essas duas coisas se interligam – insulina alta no sangue e desenvolvimento do Alzheimer?
Dr. Souto: É sabido há tempos que há uma associação muito significativa entre diabetes e Alzheimer. Inclusive, há estudos mostrando que pode se desenvolver uma resistência à insulina no nível do sistema nervoso central. Alguns pesquisadores propõem que o Alzheimer fosse chamado de diabete tipo-3; um diabete do sistema nervoso central. Então, há uma ligação muito grande entre diabetes e Alzheimer. Como é uma associação, não podemos estabelecer causa e efeito ainda. Por enquanto, é só uma sugestão. Nós temos outro dado muito interessante… o Alzheimer é caracterizado por alterações na estrutura cerebral causadas pelo acúmulo de uma proteína chamada de amiloide. O acumulo dessa proteína acaba levando ao quadro demencial do Alzheimer. Existe uma enzima que degrada essa proteína. Essa enzima é a mesma enzima que degrada a insulina. Essa autora não é a primeira a propor isso, mas ela fez uma integração muito mais completa da ciência sugerindo que a insulina cronicamente elevada fazem com que essa enzima acabe ficando todo o tempo ocupada em degradar aquele excesso de insulina e fica indisponível para degradar o amiloide, fazendo com que ele se acumule. Essa teoria tem bastante embasamento na ciência básica de estudos em animais. Existe essa coincidência de que níveis elevados de insulina estão presentes em mais da metade dos casos humanos de doença de Alzheimer. Se isso for verdade, significa que evitar a hiperinsulinemia (com uma dieta que não seja rica em carboidratos refinados), através de uma dieta com poucos carboidratos, faz a pessoa perder peso e talvez seja uma maneira de evitar o desenvolvimento da doença de Alzheimer. Existe um estudo feito com um número relativamente pequeno de pacientes, que atraiu bastante a atenção da mídia no ano passado, no qual onde os cientistas faziam múltiplas intervenções. Intervenções comportamentais, de estímulo cognitivo e de dieta (dieta de baixo carboidrato). Esse estudo mostrou uma melhora significativa da cognição de pacientes com Alzheimer. Acho que foi o primeiro estudo em humanos a mostrar um efeito tão significativo. Então, isso pode ser colocado junto com a conclusão da doutora onde ela diz que há evidências de que uma alteração de dieta que permita níveis mais baixos de insulina pode ajudar a evitar e a reverter em parte os danos cognitivos dessa doença terrível.
Rodrigo Polesso: Essa conclusão é muito forte. Vemos muitas pessoas – até jovens – com medo de desenvolver algo assim. As pessoas sabem que é uma doença progressiva, sem cura. A incidência de doença de Alzheimer na população geral tem uma curva muito parecido com a curva da síndrome metabólica, diabetes e outros problemas relacionados. Ou seja, todas essas ramificações de problemas tem a mesma causa, que são nossos maus hábitos alimentares.
Dr. Souto: Quando levantamos que o Alzheimer está cada vez mais comum, tomando proporções epidêmicas, e que é praticamente ausente nas populações que têm um estilo de vida tradicional mas muito comum nas populações industrializadas, as pessoas dizem “claro, afinal, é uma doença que ocorre na velhice, então populações que vivem mais terão mais Alzheimer. Acontece que essas comparações já são normalizadas pelos estudos, através de controles matemáticos por idade. Estamos dizendo que o número de pessoas com 50 anos de idade que têm Alzheimer é muito maior hoje em dia do que o número de pessoas com 50 anos de idade que tinham Alzheimer há 20 ou 30 anos atrás. Então, mesmo em populações com estilo de vida tradicional onde talvez a longevidade seja um pouco menor pela falta de acesso à medicina moderna, os idosos têm uma incidência muito menor de Alzheimer. Então, não há nenhuma dúvida de que a incidência de Alzheimer é maior nas populações de estilo de vida ocidentalizado. O problema é que são estudos observacionais e não podemos estabelecer causa e efeito. Nem eu nem o Rodrigo vamos cometer o erro que a nutrição tradicional comete de dizer que X causa Y sem que um ensaio clínico randomizado tenha sido feito. Então, não vou afirmar que muita farinha e muito açúcar causam Alzheimer. Mas, se vocês me perguntarem que eu acredito nisso, sim, eu acredito nisso. A minha visão da minha literatura científica como ela está posta hoje, é de que há uma alta probabilidade de que carboidratos refinados tenham muito a ver com o desenvolvimento de síndrome metabólica, obesidade, diabetes e Alzheimer. Para mim, isso é parte do mesmo espectro de doenças.
Rodrigo Polesso: Eu também estou totalmente convencido. Perceba o custo-benefício da gente implementar um estilo de vida alimentar correto. Vejam quantas coisas que podem derivar disso. Apesar de eu também achar que o Alzheimer tem uma grande relação com a síndrome metabólica. Mas têm muitas outras coisas que são comprovadas; ou seja, existe um grande benefício em implementar isso. Você não tem nada a perder e muita coisa a ganhar. Aliás, tenho uma referência bacana de um livro chamado “Grain, Brain” de um neurologista nos Estados Unidos, Dr. Perlmutter. Você sabe se ele foi traduzido para o português, doutor?
Dr. Souto: Sim, está traduzido. Se chama “A Dieta da Mente”.
Rodrigo Polesso: Dieta da Mente. É uma ótima referência. Ele fala sobre a influência da alimentação de carboidratos e açúcares na nossa saúde mental. É um livro muito bacana de se estudar. É bom para ver o tipo de evidência que existe hoje para esse assunto tão sério, que é nossa saúde mental. Antes de partirmos para o quadro “O Que Você Comeu no Almoço de Ontem?”, quero falar para o pessoal que quer emagrecer aplicando o que a ciência diz ser a melhor estratégia para emagrecer, convido vocês a visitarem o Código Emagrecer de Vez. É um programa estruturado de três fases para te levar do começo até o final. Você talvez veja os melhores resultados que você já tenha visto de emagrecimento, saúde e estilo de vida: www.CodigoEmagrecerDeVez.com.br. Se você quer implementar e manter um estilo de vida saudável e se juntar a uma comunidade incrível que se apoia mutuamente nesse sentido, junte-se à Tribo Forte. Seja um Membro VIP da Tribo Forte. É uma comunidade incrível que vai te ajudar no dia a dia a manter e melhorar seu estilo de vida, além de fazer parte de um movimento que só cresce. Dr. Souto, o que você comeu no almoço de ontem? A primeira vez que eu fiz essa pergunta para o Dr. Souto, adivinha o que ele falou? “Nada.” Inclusive, uma pessoa comentou “que sacanagem, Dr. Souto saindo pela tangente e não respondendo à pergunta!” Mas a gente responde o que é verdade. O Dr. Souto estava fazendo um jejum naquela hora e não havia comido nada no almoço. Acredito que no almoço de ontem ele tenha comido algo e vou deixar ele falar o que foi.
Dr. Souto: Acho que dessa vez vem bem a calhar porque é uma situação que muitos que estão nos ouvindo irão enfrentar. Estou gravando esse podcast em Gramado. Gramado é a terra do chocolate caseiro. Aqui tem pães, cucas, bolos à vontade… muita culinária alemã tradicional. Para piorar a situação ontem eu fui com a família almoçar num local que serve mais lanches do que almoço; não é exatamente um restaurante. É um local especializado em crepes e lanches. O que que alguém que está fazendo uma alimentação low-carb, forte ou paleo pode comer num local assim? Olhei o cardápio e vi incontáveis lanches, pães, bolos, doces e um omelete com queijo. Alguém pode dizer que “isso não é almoço”. E eu pergunto, “por que não?” Está escrito nas tábuas de Moisés? Está escrito na Constituição Federal que eu não posso comer omelete no almoço? Posso. Eu pedi um delicioso omelete com queijo e uma sala com vegetais da estação para acompanhar, com verdes mistos, tomate cereja e morangos. Esse foi meu almoço de ontem. Então, é possível sim, em viagem, mesmo em um local com tantas tentações, manter o estilo de vida. Um estilo de vida tem que ser possível de se manter comendo-se fora, viajando, comendo-se em restaurante. Essa é a beleza da coisa. Chocolate caseiro de Gramado, é uma delícia; eu adoro. Não tem de 85%, mas tem 70% e é uma barra pequena. Então, a pessoa pode comer seu chocolate junto com um café. Ela pode almoçar e jantar fora. Ninguém precisa ser santo. Quem está numa situação dessa vai escolher uma janta para comer o que gosta. O segredo é não fazer isso todos os dias. Então, o que eu comi ontem serviu para mostrar que podemos manter o estilo de vida em qualquer situação.
Rodrigo Polesso: Estilo de vida conseguimos manter pela vida inteira, dieta não. E só conseguimos manter um estilo de vida flexível e adaptável. A chave para isso tudo é entender a base da alimentação; entender porque que a alimentação funciona. Só assim você pode fazer a escolha mais sábia de acordo com as opções que você tem em mãos. No episódio passado falamos de vários benefícios surpreendentes do chocolate. Você mencionou o omelete; o omelete pode não ser algo para a janta, ou para almoço, mas nos Estados Unidos e no Canadá existem muitos restaurantes que atraem clientes dizendo que servem café-da-manhã o dia inteiro. Então, as pessoas querem café, omelete, ou outros pratos com ovos, o dia inteiro. Então, têm restaurantes especializados em servir omeletes o dia inteiro. Eu adoro também omeletes e fritadas com ovos. Esse tipo de coisa vai bem em qualquer hora do dia e é muito nutritivo.
Dr. Souto: Vou comentar uma peculiaridade com vocês. A minha família é originalmente de São Borja, na fronteira com a Argentina, bem no pampa. Minha vó tinha uma fazenda que ficava há uma hora de estrada de terra da cidade mais próxima. Então, o que o peão que cuidava do gado comia no café-da-manhã? Churrasco! Um deles acordava bem cedo, antes das 6 da manhã, fazia um fogo de chão, botava o chimarrão e botava a carne de ovelha para assar. Nada como um churrasco de ovelha no café-da-manhã para trabalhar o dia inteiro e não sentir fome.
Rodrigo Polesso: Então, eles ficavam dormindo no trabalho?
Dr. Souto: Impossível.
Rodrigo Polesso: Coincidentemente ou não, eu comi justamente churrasco no almoço de ontem. Estou visitando minha família em Curitiba e todo bom gaúcho faz um churrasco. Então, meu pai fez um churrasco, com churrasqueira, espeto e vários tipos de carne. Eu amo churrasco. E pode comer de consciência tranquila. Para acompanhar o churrasco minha mãe vez um misto de quiabo e abobrinha na manteiga e uma maionese caseira para fechar esse grande banquete que tivemos aqui. O melhor de tudo isso é que eu teria energia suficiente para cavalgar o dia inteiro também. Eu posso comer tudo isso porque entendo que o impacto metabólico dessa alimentação é alinhado ao que eu quero para meu corpo. Então o churrasco é muito bem-vindo. Dr. Souto com seu omelete, queijo e legumes da estação… espero que esse tipo de coisa dê uma ideia para o pessoal explorar e pensar no que você escolhe em cada refeição do seu dia. Pense no impacto metabólico que a comida tem no seu corpo e não somente no impacto calórico. Todos sabem que não damos muita bola para essa questão calórica; ela fica em segundo plano. Pensem em como os alimentos influenciam seu corpo e impactam seu metabolismo. Depois que você entender isso, você começa a abraçar uma grande liberdade de escolhas e uma incrível paz mental quando você se alimenta. Você conseguirá aproveitar esse estilo de vida pelo resto da sua vida.
Dr. Souto: Perfeito, é isso aí.
Rodrigo Polesso: Ótimo. Mais um episódio recheado. Espero que tenha sido útil para todo mundo. Lembre-se: toda terça-feira temos um episódio saindo do forno. Reserve essa hora na sua semana; é uma hora dedicada à sua saúde, ao seu bem-estar, ao seu estilo de vida. Aqui a verdade vai sempre reinar. Quem quiser ser um Membro VIP da Tribo Forte, vá em www.TriboForte.com.br; quem quiser emagrecer com um programa estruturado baseado em toda essa ciência que falamos aqui, de forma fácil com passo-a-passo, vá em www.CodigoEmagrecerDeVez.com.br. Obrigado pela audiência. Nos falamos no próximo episódio, na próxima terça-feira. Um grande abraço a todos
Dr. Souto: Abraço!
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