quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Biscoito é gordura saturada de acordo com estudo

Em uma pesquisa recente, conduzida por J Bake e sua equipe da universidade do oeste da Escócia e da Universidade de Glamorgan, entitulada “Food for thought : Have We Been Giving the Wrong Dietary Advice? (Alimentos para o pensamento: Estivemos dando conselhos errados?), foi realizado uma revisão do famoso estudo do Ancel Keys que foi realizado em 7 países, com o objetivo premeditado de provar que o consumo de gorduras saturadas está por trás do aumento de doenças cardiovasculares nas sociedades modernas.
O estudo de Ancel Keys influenciou as políticas da USDA (Departamento de agricultura dos EUA) na criação da antiga pirâmide alimentar americana, que reflete a política do governo americano com relação a alimentação e também as políticas do “ Instituto Nacional de Excelência Clínica”- The National Institute of Clinical Excellence (NICE), órgão governamental da área de saúde pública do Reino Unido responsável por guiar algumas das práticas de saúde pública.
Este último alega que a redução do consumo de gorduras saturadas para menos de 10% do consumo total de calorias diárias, assim como a substituição da gordura saturada por óleos processados gera uma diminuição no risco de desenvolvimento de doenças cardíacas e pode salvar 30.000 vidas. Nada poderia estar mais longe da verdade, de acordo com este estudo conduzido por J Baker et al e muitos outros.
O estudo de Ancel Keys serviu como um dos pilares para a “hipótese da dieta/coração” (The diet-heart hypothesis), que é a crença de que a gordura saturada e o colesterol consumido são os responsáveis pelo aumento do colesterol sanguíneo, logo, aumentando o risco do desenvolvimento de doenças cardíacas. Esta hipótese ainda reflete a opinião pública dos EUA, que influenciou a opinião pública e as recomendações alimentares dos governos de muitos outros países como o Brasil.
De acordo com Baker, o estudo feito por Ancel Keys incluiu carboidratos e alimentos altamente processados e os classificou como gorduras saturadas. O  Instituto Nacional de Excelência Clínica dos EUA passaram também a classificar carboidratos e alimentos processados como biscoitos, doces, sorvete, salgados e bolos como sendo gordura saturada.
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De acordo com Ancel Keys, isto é gordura saturada.

A interpretação do estudo de Ancel Keys, ao invés de ser a de que o consumo de gorduras saturadas aumenta o risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares, foi a seguinte:
“A evidência indica que alimentos processados estão fortemente associados ao aumento da obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e outras doenças de nossa sociedade moderna. Os nutrientes macro e micro encontrados na carne, peixe, ovos e produtos lácteos, são vitais para a saúde humana e o consumo destes alimentos nutritivos deve ser incentivado.”
Outro fato que comprova a manipulação dos resultados é a seleção dos países estudados para que fosse dada a conclusão tendenciosa. Havia mais de 16 países com dados disponíveis para a conclusão do estudo que foram ignorados, para que  a correlação que ele desejava obter fosse alcançada. Se ele tivesse escolhido outros 6 países, como apresentado nos quadros abaixo (tanto da esquerda como da direita) ele poderia ter demonstrado que quanto maior o percentual de gordura na dieta, menor o número de mortes por doenças cardíacas.
Observe os quadros da parte de baixo da figura. Keys não foi honesto em seus estudos...
Observe os quadros da parte de baixo da figura. Keys não foi honesto em seus estudos…

Novamente, este não é o único estudo que desmascara a relação do consumo de gorduras saturadas com o desenvolvimento de doenças cardíacas. Parece haver uma grande diferença entre as recomendações públicas sobre o consumo  de gorduras, gordura saturada e carboidratos e as evidências científicas disponíveis atualmente.  A confusão gerada por pesquisas como a de Ancel Keys apenas faz parte do problema, que é multi-fatorial, estando provavelmente relacionado a diversos fatores. No entanto quem sofre com as consequências como sempre é o público.

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