quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Como brincar pode mudar a sua vida

Como brincar pode mudar a sua vida

Vivemos em um mundo social. Relacionamentos sempre estiveram conosco desde os tempos primordiais e sempre foram inerentes à condição humana e essenciais para a nossa sobrevivência. As sociedades modernas atuais, com o desenvolvimento tecnológico, internet e mídias sociais, oferecem diversas oportunidades para o desenvolvimento intelectual e cultural dos indivíduos destas sociedades, assim como oferecem oportunidades sem precedentes para o ser humano, oportunidades de conexões sociais e ideológicas que estão rompendo barreiras de tempo e espaço. Relacionamentos que tem um enorme potencial enriquecedor para indivíduos que procuram compartilhar informações, criar comunidades, desenvolver idéias, a fim de gerar progresso tanto cientifico, quanto tecnológico, comercial e intelectual. Enfim, inúmeras possibilidades que tendem a aumentar conforme progredimos como sociedade.
No entanto, ao convivermos em este mundo tecnológico, tendemos a nos perder em meio a tantas possibilidades e nos esquecemos do que é essencial para o ser humano, o que, a princípio, foi responsável por este progresso e acima de tudo, o motivo pelo qual este progresso existe. A conexão social, com seres humanos, animais e a natureza. Conexão a qual não podemos viver sem e a qual constitui a essência, o motivo e o propósito de nossa existência.
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Instintivamente, desde criança, adotamos em nossas vidas brincadeiras, jogos e diversão que misturam em uma atividade só a interação social, relacionamento com a natureza, conexão com nossos sentimentos e individualidade e atividade física. Não é a toda que a brincadeira (play, em inglês) é uma prática que tem sido valorizada recentemente, principalmente nos meios que estudam o estilo de vida dos nossos ancestrais.
Diversos estudos têm comprovado a efetividade da brincadeira no desenvolvimento da criatividade, resolução de problemas e da saúde mental. Alguns dos benefícios da brincadeira incluem cooperação, flexibilidade, administração dos sentimentos (frustração, euforia, etc),  inovação e criatividade, sentimento de fluxo, entre outras.
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Um dos especialistas no assunto é Stuart Brown, psicólogo que dedicou décadas ao estudo dos jogos e aplicou seus benefícios tanto em terapias pessoais quanto em otimização dos negócios. Em seu livro: “Jogo: Como ele molda o cérebro, abre a imaginação e revigora a alma” (tradução livre), Brown sugere que nós somos uma espécie única neste quesito. Muitos experts nos campos tão diversoso como a biologia, antropologia e psicologia escreveram sobre a neotenia humana – a extensão de várias características “juvenis” para a idade adulta. “Nós temos um longo período de infância sem precedentes. Ainda mais importante, no entanto, nós mantemos o interesse primário em explorar, experimentar e testar o ambiente a nossa volta por muito mais tempo do que os adultos de outras espécies, que se acomodam nos assuntos sérios e na rotina insitintiva”, explica Brown. Para ele, os benefícios cognitivos e criativos da neotenia foram responsáveis, em parte, pela seleção de nossa espécie.
Por onde começar?
Mas, a esta altura, você já deve estar se perguntando: Ok, mas como faço para introduzir o jogo/brincadeiras na minha vida?
O caminho mais fácil é retornar a atividades em grupo e ao ar livre que já te deram prazer no passado, mas que por algum motivo foram abandonadas, como jogar futebol com os amigos, jogar tênis com o parceiro, jogar volei na praia, fazer, trilhas, andar de bicicleta, nadar, etc. Muitas pessoas podem estar querendo fazer a mesma coisa que voce, basta convidá-las.
Outra maneira é se inscrever em uma aula de esporte que te agrade e também aproveitar para fazer novos amigos. O importante é que você introduza estas atividades na sua rotina de maneira agradável, sem a pressão que muitas vezes acompanha a prática de exercícios físicos – como a preocupação com melhora de performance, tempo ou perda de peso. A brincadeira deve ser um aproveitamento do tempo de maneira leve e divertida, embora tenha os benefícios da prática de exercícios, deve ser encarada como lazer.
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É muito importante, no entanto, que as atividades sejam realizadas ao ar livre. O contato com a natureza é um contato que é inerente ao ser humano e que serve como fonte de energia e inspiração para o ser humano que vai além do meio de comunicação em si e nos leva a presenciarmos um estado de felicidade profundo. Este estado é alcançado em meio a natureza, a qual nos originamos, portanto somos dependentes e nos é concedido ao usarmos nossos sentidos de forma a que alcancemos um melhor contato com este ambiente, que envolve todos os objetos e seres que fazem parte de nosso dia a dia. Este é o contato em que somos dependentes como seres humanos, é inerente a felicidade humana e o equilíbrio do organismo e nos acompanha há milhares de anos ao longo de nosso desenvolvimento como espécie.
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Nossos ancestrais conviviam de acordo com estes valores e princípios, o que podemos observar por meio de pesquisas sobre a cultura dos nossos ancestrais, que ao longo das últimas décadas tem nos oferecido indicações sobre a vida cultural de nossos ancestrais durante o último período paleolítico.  Muitas destas pesquisas apontam para o fato de que nossos ancestrais tinham uma vida social intensa cheia de rituais e práticas que aconteciam com o objetivo de reforçar o sentimento gregário entre os membros das sociedades, ou seja, aconteciam como forma de reforçar o vinculo entre os membros da sociedade o que deu origem a rituais religiosos.
Os rituais mais antigos, de acordo com evidências arqueológicas, eram centrados durante o compartilhamento dos animais caçados e ao longo do tempo foi se tornando uma atividade mais sofisticada. Estas pesquisas provam que por volta de 200 a 400 mil anos atrás (período paleolítico recente) caças de grandes animais mamíferos passaram a ser distribuídas de forma cada vez mais organizada, de acordo com regras pré estabelecidas, o que reflete o desenvolvimento cognitivo e cultural dos povos ancestrais
Com o passar do tempo os rituais se tornaram cada vez mais sofisticado e deixaram de centrar-se apenas nos alimentos e passaram a ser elaborados e em torno do vínculo social nas horas de lazer. Na idade do gelo, houve um grande crescimento populacional. Neste período, resquícios arqueológicos comprovam um grande desenvolvimento cultural como reflexo deste crescimento, desenvolvimento dos rituais, que contribuíam para o desenvolvimento de uma identidade cultural comum os membros das sociedades, o que fortalece o vínculo entre os membros e o espírito de cooperatividade, como por exemplo rituais de enterros e velórios. Em uma pesquisa recente foi encontrado o que pesquisadores acreditam ter sido um grande banquete, feito para homenagear a morte de um xamã importante para a tribo.
Caio praticando seu ritual - Indonésia 2008
Caio praticando seu ritual – Indonésia 2008
Então aqui temos evidências arqueológicas de que rituais fazem parte da história do ser humano há pelo menos centenas de milhares de anos. Desta forma, é concebível que os pesquisadores acreditem que os vínculos são de extrema importância biológica para o ser humano e permitiu que ele se desenvolvesse para melhor se adaptar aos fatores externos do meio ambiente para que assim se procriasse como espécie ao longo das gerações.
Estudos recentes tem se focado na ideia de “distúrbio de déficit de natureza”, sugerindo que as crianças que passam muito tempo olhando para as telas podem desenvolver déficit de atenção, hiperatividade ou depressão. Enquanto nossas crianças podem levar a pior neste déficit de natureza, aqueles de nós que passam 40 horas ou mais, por semana, com os olhos grudados na tela do computador podem ter consequências negativas similares.
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Embora não seja possível largar nossos trabalhos, vender nossas casas e mudar para um lugar selvagem (ou seria?), existem muitas maneiras de aliviar nosso déficit crescente de natureza:
1. Faça seus exercícios ao ar livre: pesquisas mostram que se exercitar ao ar livre oferece benefícios ainda maiores física e mentalmente, se comparado aos exercícios feitos em ambiente fechado. Faça caminhadas longas no seu parque local (ou na praia) ao invés de fazê-lo na esteira da academia com luz artificial. Aproveite-se dos dias quentes e ensolarados e faça seus exercícios de força ao ar livre também. Isso pode necessitar de mais planejamento e criatividade, mas os benefícios físicos e mentais valerão o esforço.
2. Invista em um animal de estimação: a companhia de um animal foi essencial para a sobrevivência do homem primitivo e esta prática era comum nas sociedades caçadoras-coletoras. Possuir um animal de estimação não só dá uma sensação de companheirismo e criação, mas também oferece uma conexão mais tangível com a natureza. O contato com os animais tem demonstrado menor risco de doenças cardíacas, menos ansiedade e redução na depressão. Para não dizer que, além disso, não há nada mais motivante para sair de casa do que um cachorro hiperativo!
3. Crie um jardim dentro de casa: se sair de casa regularmente for um desafio, considere incluir algumas plantas dentro de sua casa. Os estudos tem demonstrado que manter plantas em casa aumenta o humor, melhora a qualidade do ar e reduz a ansiedade e a fadiga.
Nosso relacionamento com a natureza é um componente vital para o bem estar que muitas vezes é deixado de lado pelas preocupações da vida moderna. Para atingir nossa saúde completa como seres humanos, nós precisamos considerar  que a adequação biológica ao ambiente que vivemos pode ser tão importante para nossa saúde quanto a alimentação e o exercício.
Aproveite o final de semana que se aproxima e faça uma tentativa, chame os amigos ou família para uma brincadeira ou atividade ao ar livre. Você verá como isso beneficiará seu dia e fará voce se sentir muito melhor. aos poucos, tente fazer disso uma rotina e sentirá que você estarea muito mais em contato com seu verdadeiro eu.
Referências
http://nmr.mgh.harvard.edu/~lazar/Articles/Lazar_Meditation_Plasticity_05.pdf
http://nmr.mgh.harvard.edu/~lazar/Articles/Holzel-SCAN-2010.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18837623
http://spl.stanford.edu/pdfs/Hutcherson_08_2.pdf

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