Mal de Alzheimer: há um papel para a dieta ?
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Verner Wheelock
A
Doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência, afetando
quase meio milhão de pessoas no Reino Unido. O termo "demência" descreve
um conjunto de sintomas que podem incluir perda de memória, mudanças de humor e problemas com comunicação e raciocínio. Alzheimer é uma doença progressiva,
o que significa que gradualmente, ao longo do tempo, mais partes do
cérebro são afetadas. À medida que isso acontece, os sintomas tornam-se
mais severos [1].
Apesar do uso extensivo de drogas para tratar a doença, a dura realidade
é que ainda não temos cura genuinamente efetiva. Por conseguinte,
quaisquer progressos no controle da DA só serão conseguidos pela
prevenção, o que significa que temos que focar na nossa compreensão das
causas. De acordo com um estudo liderado por Deborah Barnes, uma
pesquisadora da saúde mental do Centro Médico VA em São Francisco, mais
da metade de todos os casos de DA poderiam ser potencialmente evitados
por mudanças no estilo de vida e tratamento ou prevenção de condições
médicas crônicas. Como resultado da análise dos dados, os fatores de
risco mais significativos para DA são, em ordem decrescente:
- Baixa educação
- Tabagismo
- Inatividade física
- Depressão
- Hipertensão na meia-idade
- Diabetes
- Obesidade na meia-idade
Juntos, esses fatores de risco estão associados com até 51% dos casos de
DA no mundo inteiro (17.2 milhões), e a até 54% dos casos nos EUA (2.9
milhões) [2].
Nesse blog, eu vou tentar identificar alguns dos fatores dietéticos
relevantes. Um estudo recente conduzido pela Clínica Mayo descobriu que
pessoas com 70 anos ou mais, que comem alimentos ricos em carboidratos,
tem aproximadamente 4 vezes maior risco de desenvolver problemas
cognitivos leves. Resultados similares também foram obtivos para aquels
que consumiram uma dieta rica em açúcar. Em contraste, aqueles que
consumiram dietas com altas proporções de gordura e proteína em relação
aos carboidratos, tiveram menor probabilidade de desenvolver a condição.
Pesquisadores acompanharam 1230 pessoas com idades entre 70 e 89 anos,
que forneceram informações sobre o que comeram durante o ano anterior. À
época, sua função cognitiva foi avaliada por um painel de especialistas
contendo médicos, enferemeiros e neuropsicólogos. Desses participantes,
foi solicitado apenas aos quase 940 que não mostraram sinais de
problemas cognitivos que retornassem para avaliações de acompanhamento.
Cerca de 4 anos depois, 200 dos 940 tinham começado a apresentar sinais
de problemas cognitivos leves, problemas de memória, linguagem,
pensamento e julgamento maiores que as mudanças esperadas pela idade.
Aqueles que reportaram a maior ingestão de carboidratos no início do
estudo tiveram probabilidade 1.9 vezes maior de desenvolver problema
cognitivos leves, do que aqueles com a menor ingestão de carboidratos.
Participantes com a maior ingestão de açúcar tiveram probabilidade 1.5
vezes maior de ter problemas cognitivos leves que aqueles com a menor
ingestão.
Mas aqueles cujas dietas eram mais ricas em gordura – comparados à mais
pobre – tiveram probabilidade 42% menor de enfrentar problemas
cognitivos, e aqueles que tiveram a ingestão mais alta de proteínas
tiveram um risco 21% menor.
Quando a ingestão total de gordura e proteína foi levada em
consideração, as pessoas com maior ingestão de carboidratos tiveram
probabilidade 3.6 vezes maior de desenvolver problemas cognitivos leves.
Um estudo conduzido em Roterdã descobriu que aqueles com diabetes tinham
3 vezes maior probabilidade de desenvolver demência que aqueles sem.
Pacientes sendo tratados com insulina tiveram risco de demência 4 vezes
maior [4].
Aqueles com diabetes não-diagnosticada tiveram risco 3 vezes maior de desenvolver DA, comparados àqueles sem diabetes [5].
As diferenças na incidência da doença em diabéticos é provavelmente
ainda maior que o indicado nos vários estudos, porque as pessoas
classificadas como "não-diabéticas" invariavelmente incluem diabéticos
que não foram diagnosticados. Isso significa que os valores para aqueles
considerados livres do diabetes seriam mais altos que aqueles que são
genuinamente livres da doença.
Essas descobertas foram efetivamente confirmadas em um estudo recente
conduzido nos EUA [6]. Mais de 2000 participantes foram monitorados,
tendo sua glicemia avaliada ao menos 5 vezes durante os 5 anos
anteriores ao início da investigação. Os participantes foram avaliados
por demêmcia a cada 2 anos. Diagnósticos de demência e de provável ou
possível DA foram feitos com base nos critérios da pesquisa. Ao término,
mais de 10% foram diagnosticados com diabetes. Em um período de
acompanhamento medio de 6.8 anos, a demência desenvolveu-se em 524 dos
2067 participantes (25.4%), incluindo 450 dos 1724 participantes que não
tinham diabetes ao final do acompanhamento (26.1%) e 74 dos 342 que
tinham diabetes ao final do acompanhamento (21.6%). O que foi
especialmente interessante foi que a incidência de demência aumentou com
a glicemia para aqueles sem diabetes, bem como para aqueles com
diabetes [6]
É aceito que a glicemia é determinada pela presença na dieta de
alimentos cuja digestão rapidamente libere frutose e glicose.
Essencialmente, esses são os açúcares e carboidratos refinados, apesar
de que precisa ser reconhecido que muitos dos chamados "carboidratos
complexos" também fazem uma contribuição para a glicose em circulação. A
importância desses achados é que mesmo se o diabetes não tiver sido
diagnosticado, pode muito bem ser possível reduzir os riscos de
desenvolver DA ao tomar passos que reduzam a glicemia.
De acordo com o Dr. David Perlmutter, autor de "A dieta da mente", uma
pessoa consumindo uma dieta pobre em carboidratos e relativamente rica
em gorduras desenvoveu a habilidade de usar a gordura como fonte de
energia [7]. Isso significa que a glicose não é requerida para prover
energia e que os níveis glicêmicos irão permanecer bem baixos. Como
consequência, os riscos de desenvolvimento de AD, diabetes e outras
doenças e condições relacionadas também serão reduzidos.
Invelizmente, o aconselhamento atual para pacientes com glicemia elevada
é REDUZIR A GORDURA e AUMENTAR OS CARBOIDRATOS, o que tem o efeito de
elevar a glicemia e portanto tornar as coisas piores.
Como ficará claro para os leitores das minhas outras contribuições, há
agora evidência esmagadora de que uma dieta que seja rica em gorruda
(exceção para as gorduras trans e as ômega-6) é benéfica à saúde. Ao
mesmo tempo, é crucial limitar a ingestão de todos os carboidratos. Ao
adotar essa abordagem, os riscos de desenvolver doença cardíaca,
obesidade e vários cânceres, será reduzido. Doença de Alzheimer agora
pode ser adicionada a essa lista.
Referências
- http://www.alzheimers.org.uk/site/scripts/documents_info.php?documentID=100
- http://www.ucsf.edu/news/2011/07/10278/over-half-alzheimers-cases-may-be-preventable-say-researchers
- http://iospress.metapress.com/content/qh341365j35865q7/?p=2f52541ebcc94dc5ae0765e3235b48f7&pi=7
- A Ott et al (1996) Diabetologia 39 (11) pp 1392-1397
- W L Xu (2009) Diabetologia 52 (6) pp 1031-1039
- http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1215740#t=articlex
- http://mercola.fileburst.com/PDF/ExpertInterviewTranscripts/Interview-DavidPerlmutter.pdf
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