Quando você não deveria diminuir seu colesterol
Talvez eu não tenha tratado o suficiente sobre esta questão aqui no blog ultimamente, possivelmente devido ao fato de que acho cansativo escrever ou pensar sobre fatos óbvios e monótonos, por isso sempre busco me informar sobre fatos novos que me chamam a atenção, para deixar o leitor mais informado, partindo do pressuposto de que existem poucas dúvidas com relação a certas questões que já foram abordadas no site anteriormente. No entanto, me deparei com alguns estudos recentemente que demonstram de forma simples, óbvia e irrefutável a realidade desta questão e por isso estou aqui a falar novamente sobre o assunto.
Antes de sairmos por aí comprando remédios para diminuir o colesterol ou nos orgulharmos por termos o colesterol baixo, vamos fazer um rápido resumo do que os estudos realmente dizem sobre o assunto.
Diversos estudos randomizados têm demonstrado que o aumento do consumo de carboidratos refinados e a diminuição do consumo de gordura não estão associados a menores riscos do desenvolvimento de doenças cardíacas, muito pelo contrário, e isto também é suportado por dados epidemiológicos que demonstram a correlação entre o maior consumo de gordura per capita e a menor incidência de doenças cardiovasculares (link) (link) (link).
A associação americana do coração, antes da década de 60 já estava muito ciente disso, até que políticas foram criadas pelo governo, suportadas por uma teoria há muito tempo refutada por cientistas e pesquisadores creditáveis e até mesmo por pesquisadores da época. Políticos usaram como base esta pesquisa para o estabelecimento das diretrizes nutricionais da época, que se estendem até os dias atuais, baseadas em um alto consumo de grãos e carboidratos refinados, gerando um aumento do subsídio dado pelo governo à agricultura que resultou na criação e promoção de produtos altamente prejudiciais à saúde como os cereais matinais. Já abordei mais detalhadamente este assunto no meu livro e no blog (link) (link) (link) (link).
Ao contrário do que a associação americana do coração diz, NÃO EXISTEM evidências de que uma pessoa que possui colesterol total acima de 190 mg/dl com níveis de HDL altos precise abaixar o colesterol para diminuir os riscos de infarto. Existe pouca correlação entre o colesterol total e a criação de plaquetas. Em mais detalhes, existe apenas uma pequena associação para quem tem mais de 300 mg/dl. A maior ocorrência está em indivíduos entre 150 e 225 mg/dl e isso acontece simplesmente porque essa é a média da população em geral. Os únicos indicadores da síndrome metabólica/diabetes são triglicérides/HDL e o VLDL, além da insulina de manhã, glicose, proteína C-reativa, dilatação fluxo mediada, entre outros. Porém é impressionante a capacidade da indústria farmacêutica em favorecer a decisão de muitos médicos de ignorarem completamente todos estes marcadores, favorecendo somente o colesterol, que é apenas um previsor marginal de doenças cardíacas, que nos diz muito pouco sobre a saúde cardiovascular de um indivíduo. A necessidade de muitos médicos de simplificarem a questão é descrita de maneira muito clara neste artigo (link). Muitos deles simplesmente não conseguem entender a questão.
O colesterol alto não é a causa das doenças cardíacas, como muitos pensam, mas sim a inflamação e os danos oxidativos. A oxidação das partículas de gordura de muita pequena densidade, VLDL, supostamente gera a criação de plaquetas nas artérias. Estas partículas muito pequenas estão sujeitas a oxidação. Quando o LDL está acima de 300 mg/dl as chances de que as mini-partículas tenham aumentado aumentam, por isso a pequena correlação com os casos de infarto. Já a média da população em geral se encontra em 150 a 225 mg/dl e por isso a maioria dos casos ocorrem nesta faixa. No entanto, outra observação é o fato de que o colesterol total baixo, menor de 190, quando associado a um HDL baixo, (o colesterol “bom”) aumenta o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas.
Já em indivíduos que possuem colesterol alto, acima de 225, estando acima da média populacional, por exemplo, a chance deste indivíduo não é necessariamente aumentada se o HDL for alto e outros marcadores estiverem bons, neste caso o indivíduo simplesmente tem uma tendência natural de ter o colesterol alto. Isto é algo incompreensível por muitos médicos e nutricionistas que simplesmente não conseguem entender o fato de que pessoas não são iguais aos robôs, pois existe uma grande variabilidade genética que impedem que alguns indivíduos tenham o colesterol baixo, a não ser sobre condições de extrema fome e desnutrição ou o uso excessivo de medicamentos.
Isso obviamente não significa que tenham uma maior propensão a desenvolverem doenças cardíacas, mas que simplesmente são humanos e que não é sábio tentar manipular o colesterol total sem levar em consideração os diversos marcadores da saúde cardiovascular, o que pode impedir com que o organismo exerça suas funções naturais de maneira eficiente. Existe um limiar em que os níveis de colesterol HDL, LDL e total podem ser alterados com intervenções como dieta, exercícios físicos e ganho de massa muscular. Tentar atingir níveis pré-estabelecidos como por exemplo os níveis recomendados pela associação americana de cardiologia desprovidos de rigor científico, ou seja um colesterol LDL abaixo de 100 mg/dl não é apenas perigoso, como incrivelmente estúpido. Pois novamente, em muitos indivíduos este nível almejado de colesterol está além da capacidade natural do corpo de produzir, a não ser por meio de drogas ou em estado de severa desnutrição.
Felizmente cada vez mais profissionais estão se tornando conscientes disso hoje em dia, porém muitos acabam constantemente colocando em risco a vida destas pessoas sem estarem cientes de sua ingenuidade, se atendo a idéias errôneas, fazendo de vítima eles próprios e seus pacientes.
Um estudo conduzido em 2009 na universidade UCLA de Los Angeles – Califórnia, publicado no American Heart Journal (Jornal americano de cardiologia) e apoiado pelo mesmo é mais um em meio a diversos outros estudos que iluminam mais esta questão.
Dados de mais de 100.000 indivíduos foram utilizados como amostra para este estudo nacional, em que aproximadamente 75% dos indivíduos hospitalizados por ataques cardíacos tinham níveis de colesterol “normais”, ou seja, dentro do padrão considerado ideal pelas autoridades médicas e nutricionais dos EUA e do Brasil, que supostamente não colocaria os indivíduos em maior risco de desenvolverem doenças cardíacas.
O estudo demonstrou que*:
- Mais da metade dos pacientes internados por ataques cardíacos tinham baixos níveis de colesterol HDL (o colesterol “bom”).
- Aproximadamente 75% dos indivíduos hospitalizados por terem sofrido ataques cardíacos tinham o colesterol total abaixo de 200 mg/dl, ou seja um colesterol LDL baixo também.
- Dos indivíduos que sofreram infarto pela primeira vez e que não tinham histórico de diabetes, 72,1% tinham níveis de colesterol LDL abaixo de 130 mg/dl. (Adivinha qual é a recomendação das autoridades médicas? É de mantê-lo abaixo de 130 mg/dl, de modo a favorecer o desenvolvimento de doenças cardíacas ao invés de preveni-las.)
- 50% dos indivíduos que sofreram ocorrências cardiovasculares fatais ou não fatais tinham colesterol LDL menor que 100 mg/dl. Lembrando novamente, a recomendação atual é manter abaixo de 100-130 mg/dl.
* Nota: Almost 75 percent of heart attack patients fell within recommended targets for LDL colesterol - Among individuals without any prior cardiovascular disease or diabetes, 72.1 percent had admission LDL levels less than 130 mg/dL - Close to half had LDL levels classified in guidelines as optimal (less than 100 mg/dL - Researchers also found that more than half of patients hospitalized for a heart attack had high-density lipoprotein (HDL) cholesterol levels characterized as poor by the national guidelines.Não é somente o risco do desenvolvimento de doenças cardíacas que é aumentado quando o colesterol total se encontra baixo junto com o uma HDL (colesterol “bom”) baixo, mas existe também uma relação com o crescimento de tumores.
No famoso estudo de larga escala chamado Framingham Study, iniciado em 1948, homens cujos níveis de colesterol total estavam abaixo de 190 mg /dl tiveram três vezes ou mais chances de ter câncer de cólon, comparado com os homens com colesterol superior a 220. Um total de 5.209 pessoas, com 30 a 62 anos no início do estudo, foram observadas por mais de 30 anos. O fator de risco encontrado para o desenvolvimento de câncer de próstata foi níveis altos de gordura acumulada nas vísceras (gordura abdominal) junto com níveis de colesterol baixos, para o espanto e indignação de muitos que acreditavam fervorosamente na teoria lipídica (link)(link). Como vocês leitores já estão cientes, o jeito mais fácil de acumular gordura abdominal é consumindo açúcar e carboidratos refinados.
Gary Taubes, em seu livro Good calories, Bad calories, que eu tive o prazer de reler recentemente, relata muito bem o progresso dos estudos ao longo das décadas indicando esta relação:
Pontos principais:
- Pesquisadores acreditam que o consumo de gorduras poliinsaturadas encontradas em margarinas e óleos de sementes processados aumenta o índice de desenvolvimento de tumores.
- O câncer mais prevalente em pessoas com níveis de colesterol baixo é o câncer de cólon.
- Em 1974, os principais investigadores de seis estudos populacionais contínuos, incluindo o estudo Framingham, publicaram em um dos jornais médicos mais renomeados do mundo, O Lancet, que baixos níveis de colesterol estão associados ao desenvolvimento do câncer de cólon.
- Em 1978, um estudo clínico com 16.000 homens usando drogas para diminuir os níveis de colesterol total obteve resultados similares.
- No estudo Framingham, homens com colesterol total abaixo de 190 mg/dl ainda tinham duas vezes mais chances de desenvolver qualquer tipo de câncer do que indivíduos com o colesterol total acima de 280 mg/dl.
- A partir dos anos 80 esta ligação se tornou cada vez mais evidente em diversos estudos.
Os efeitos colaterais das medicações são potencialmente danosos podendo causar a morte prematura e não está claro se há algum efeito protetor a saúde cardiovascular e se isto supera o potencial negativo dos efeitos colaterais, o que deixa o a situação ao critério do acaso, pois a diminuição do colesterol LDL pode aumentar o risco do infarto e infelizmente é isso que muitos médicos estão tentando “combater”.
Para mas informações sobre os riscos da redução deliberada dos níveis de colesterol leia este artigo (link).
Cada vez fica mais claro o fato de que a garantia de prevenção por meio de tal intervenção é muito baixa. Uma intervenção dietética é a ferramenta mais potente de prevenção que existe.
Inúmeros estudos têm demonstrado que o controle da glicemia, uma dieta nutritiva que envolva o consumo mínimo de colesterol/ gorduras saturadas, reduzir e aumentar a qualidade dos carboidratos consumidos, além de modificações de estilo de vida em geral, podem ter impacto superior ao das drogas, sem os efeitos colaterais, sendo assim a melhor garantia de sucesso. Então por que ficar beirando a margem e continuar promovendo o que não funciona? Se seu médico continua realizando suas consultas usando como base dogmas sem nenhum fundamento científico saiba que agora você está acima do seu médico, pelo menos sobre esta questão e por isso você deveria procurar outro profissional com mais credibilidade, pois você não merece nada a menos do que isso.
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