Entrevista com José Carlos Souto
José Carlos Souto |
1) Como e quando o senhor tomou conhecimento das dietas low-carb/paleo?
Quando
olho pra trás, parece muito tempo, mas foi somente em abril de 2011 que
tomei contato com o assunto. Reproduzo aqui a primeira postagem de meu
blog:
Até
abril de 2011, nunca havia me interessado muito sobre dietas. Na minha
cabeça, o assunto era uma equação extremamente simples: se você comer
mais calorias do que gasta, você engorda. Se gastar mais do que come,
emagrece. O resto era balela.
Um dia, por puro acaso, escutei uma entrevista em áudio (podcast) de um tal Gary Taubes.
O sujeito expunha ideias contra-intuitivas, completamente diferentes do
senso comum, a respeito de obesidade e nutrição. Fosse em outro
contexto, talvez eu o tivesse ignorado, mas este podcast entrevista
apenas gente séria, de modo que decidi prestar atenção. Quase tudo o que
ele dizia contradizia as minhas noções sobre obesidade e dieta.
Contudo, a lógica era impecável.
Um lado de mim dizia: "é impossível, tudo o que aprendemos e tudo que
as autoridades proclamam não pode estar simplesmente errado". Um outro
lado, porém, ponderava que seria anti-científico descartar boas ideias
apenas por que contradiziam dogmas. Afinal, na ciência, novas e antigas
proposições não deveriam ser escrutinadas e "atacadas" com tentativas de
fasificá-las? Venceu o lado cético e curioso. O entrevistado era
simplesmente brilhante demais para ser ignorado. Comprei o livro no
mesmo dia, na Amazon, em formato eletrônico.
O
que se seguiu foram dias de leitura frenética, até mesmo de insônia,
com o que eu começava a descobrir. Obviamente, coloquei em prática o
estilo de vida, e comecei a perder peso tão rápido e sem esforço que,
bem, só vendo para crer.
2) O senhor talvez seja o primeiro médico brasileiro a concordar com as dietas low-carb/paleo, ou pelo menos o primeiro a divulgá-las ativamente (em seu blog http://lowcarb-paleo.blogspot.
O
que houve foi interessante. Por um lado, encontrei outros colegas
médicos que concordavam, e até já praticavam alguns destes princípios,
mas o faziam de forma velada, talvez por receio da reação dos colegas.
Nutricionistas, bem, somente uma abraçou - acho que, para elas, é
naturalmente mais difícil ver o mundo se dissolvendo sob seus pés. Houve
ainda outros médicos que começaram a seguir a dieta, nos hospitais em
que trabalho, simplesmente por terem visto os efeitos em mim - um colega
perdeu 35 Kg! Mas estou ciente, através de comentários feitos por
amigos comuns, de que há colegas dizendo que estou maluco.
Esta
é uma pergunta muito interessante. Veja bem, a dieta low carb não é uma
dieta hipocalórica. Assim, se você tem gordura em excesso, a diminuição
dos níveis de insulina levará à lipólise, o que é bom. Mas se você é
magro, não há por que perder mais peso em uma dieta isocalórica. Minha
experiência pessoal foi a perda de 15Kg de gordura e o ganho de 8Kg de
massa magra - acho que isso responde à sua pergunta.
4) Sou corredor. Completei minha primeira maratona em 18/11/2012. Corredores são geralmente aconselhados (por seus colegas e treinadores) a comer bastante carboidrato antes, durante e depois das provas. Algumas provas inclusive distribuem isotônicos (bebidas ricas em carboidratos). Antes de maratonas, alguns fazem carbo-loading, que consiste em aumentar ainda mais a ingestão de carboidratos uma semana antes da prova. Outros atletas levam gel de carboidrato para consumir em provas e mesmo treinos.
Porém, um dos principais pesquisadores a divulgar a importância dos carboidratos para corredores, o professor Tim Noakes, autor do livro Lore of Running (http://www.amazon.com/Lore-
A pergunta é: será que os corredores estão ainda mais sujeitos aos danos de uma dieta muito rica em carboidratos por conta destes conselhos?
Estou
bem ciente da reviravolta do Prof. Tim Noakes. O prof. Noakes tem uma
posição interessante. Ele afirma que cerca de 25% das pessoas têm alta
tolerância aos carboidratos, e é para os restantes que a dieta LCHF (low
carb, high fat) estaria indicada. Todos conhecemos pessoas que, como
parece ser o caso do meu entrevistador, parecem ser imunes aos efeitos
danosos dos carboidratos. Eu não penso que todos devam fazer uma dieta
low carb. Acho que pessoas com alta sensibilidade à insulina e que
praticam esportes, especialmente esportes que necessitam explosão, como
triatletas, se beneficiam, sim de carbloading. Para estas pessoas,
sugiro uma dieta paleolítica não-low carb, com batata doce, frutas, até
mesmo arroz. Mas penso que abster-se do trigo e do açúcar refinado faz
bem a qualquer ser humano.
Para quem pratica endurance, parece haver
uma vantagem teórica em poder utilizar de forma eficiente os próprios
depósitos de gordura - e, para isso, é preciso estar ceto-adaptado.
5)
O que o senhor sugere, em termos de alimentação, para quem faz bastante
atividade física, como muitos corredores/triatletas que conheço que
praticam corrida, musculação, natação, ciclismo até 10 horas por semana?
Onde eles devem buscar informações para alimentar-se melhor?
Recomendo
fortemente dois livros: The Art and Science of Low Carbohydrate
Performance, escrito por pesquisadores que efetivamente publicam sobre
estes temas nas revistas científicas indexadas, e Low Carbohydrate Diet
for Triathletes, escrito por um sujeito que é praticante e treinador de
atletas competitivos nesta modalidade. Se você não lê inglês, bem, há
pouco que se pode fazer. Que eu saiba, há apenas uma referência
traduzida: Dieta TNT (http://compare.buscape.com. br/dieta-tnt-jeff-volek-adam- campbell-8579300088.html# precos),
um dos autores é o mesmo do primeiro livro que recomendei. É um livro
mais voltado para musculação, com estilos de dieta variados (em
quantidade de carbs) dependendo dos objetivos da pessoa, se perder mais
peso ou ganhar mais massa magra. Há um leitor do blog, ciclista
inveterado, a quem recomendei este último livro, que me relata que sua
vida mudou depois disso.
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