segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Ruminantes e metano - uma proteção ao ambiente

Ruminantes e metano - uma proteção ao ambiente



RUMINANTES E METANO: NÃO CULPE OS ANIMAIS


O artigo a seguir foi publicado recentemente pela publicação semanal australiana de temas de ecologia (e outros)  GreenLeft. É um artigo que faz uma ponderada crítica à forma que a grande mídia, incluindo certos grupos de defesa ambiental, lida com o tema ruminantes x metano x efeito estufa. Aqui no blog já publiquei um longo e elucidativo artigo de 2008 sobre o mesmo tema (LINK). Nesse, o foco é o ciclo do carbono e o papel fundamental do gado, (bovino, ovinos, caprinos etc.) para justamente melhor ajustar o metano e o carbono com todo o ecossistema envolvido em pastagens naturais. A boa ciência e a informação são fundamentais para que se crie um processo de mudança positiva. Esse é um território onde o preconceito e a ignorância têm andados juntos para tornar cada vez mais árido o futuro ambiental, sendo conduzidos com simpáticos e espirituais adjetivos e concepções, o que faz com que muitos incautos acreditem e sigam nesciamente. Mais uma vez é a divulgação de informações e pesquisas que podem mudar o futuro. Vejamos então o artigo:

Título original:

Ruminants and methane: Not the fault of the animals

16 de Janeiro de 2016
  
Bovinos e ovinos são acusados ​​de contribuírem com os gases do efeito estufa, por expelir arrotos e flatos de metano, e os agricultores no futuro estarão sujeitos de serem tributados por causa disso.
No recente conjunto de tópicos de retirada pela mudança climática da Green Left Weekly [questão # 1078] se apela para uma redução drástica nos números de ovinos e bovinos. Há um anúncio de TV, pedindo às pessoas para "serem vegetarianas para salvar o planeta". Este é um brutal equívoco sobre o ciclo de carbono dos ruminantes.
Ruminantes sempre emitiram metano; não é algo novo. Enormes rebanhos de búfalo selvagem, gado, cabras, ovelhas, veados, camelos e gnus têm pastado pelos campos do mundo há milhões de anos. As pradarias americanas já suportaram um maior número de bisontes do que o gado de agora, apesar da produção intensiva de milho e de soja que o alimenta.
Bactéria metanotrófica:
Uma bactéria aeróbica com a capacidade para crescer em metano como a sua única fonte de carbono e energia
As emissões de metano dos ruminantes selvagens nunca foram um problema, porque a natureza não permite resíduos (na natureza não existe lixo, NT)- o metano é utilizado como alimento para as bactérias metanotróficas no solo e neutralizado. Ele nunca foi um problema até que as práticas agrícolas começaram a destruir estas bactérias metanotróficas, que são muito sensíveis aos fertilizantes químicos e herbicidas. Estas bactérias se reativam em um solo biologicamente manejado (Mais informações sobre essas bactérias nesse link do departamento de energia do EUA).
No entanto, o metano não é o quadro completo. Quando a contribuição do gado para o sequestro de carbono do solo é levada em conta, é fácil ver que os ruminantes não aumentam os gases de efeito estufa se forem bem administrados.
Os solos de pastagem são os maiores sequestradores de carbono - mais do que as florestas. Em primeiro lugar o metro do solo de pastagens onde há uma média de 236 toneladas de carbono, em comparação com 96 dos solos florestais temperadas e 80 das terras cultiváveis.
As pastagens precisam dos animais para se manterem saudáveis. Esses imensos gramados, quando são bem geridos com pastoreio rotativo e o adequado tempo de recuperação - como o são por manadas selvagens e por arrebanhadores, vaqueiros e pastores de cabras e um número crescente de pecuaristas – que verdadeiramente bombeiam o carbono ao solo. Se mal gerido, excessivamente estocado e crescido os pastos ficam exauridos e perdem carbono. Não são os animais que provocam o dano, mas a forma como são geridos.
As raízes de gramíneas bombeiam até 40% dos hidratos de carbono que fabricam no solo para alimentar as populações microbianas, que, por sua vez, liberam os nutrientes trancados do solo que as gramíneas podem usar.
Solo com e sem micorrizas
O mais importante destes micróbios são micorrizas (mycorrhizal fungus), que invadem as raízes da planta e, pela sua rede de micélios efetivamente ampliam a área de raízes do forrageamento das gramíneas em dez vezes, permitindo que a pastagem sobreviver nas secas. Um subproduto deste processo é a formação de húmus, a forma estável de carbono do solo.
No entanto, as micorrizas são dizimadas por nitrato e fosfato de fertilizantes, herbicidas e fungicidas e tornam-se inativas em solo sem manejo biológico.
Pesquisa da Strathfieldsaye Estate, uma fazenda que produz carne orgânica em Gippsland, mostrou que ao longo de um período de quatro anos de pastoreio planejado, os níveis de carbono no solo têm aumentado em 20-30% na sua superfície e 200% no subsolo. Este sistema, que muitos agricultores estão utilizando, está sequestrando grandes quantidades de carbono da atmosfera.
A alimentação muito gado é um assunto completamente diferente. A produção de milho, soja e grãos para alimentar o gado é destrutivo para o carbono do solo, porque a lavoura destrói a matéria orgânica do solo, os fertilizantes de nitrato que o queima, e o desmatamento, particularmente na América Latina, que é implementado para plantar estas culturas para a alimentação animal.
Há também uma grande liberação através dos fertilizantes a base de nitrato de óxido nitroso para a atmosfera. O óxido nitroso é 300 vezes mais potente como um gás de efeito estufa do que o dióxido de carbono.
O confinamento é uma atividade agrícola irresponsável não só pelas razões da destruição de carbono. É altamente ineficiente e produz carne de má qualidade. Há a demanda de pelo menos cinco quilos de proteína de grãos para se produzir um quilo de proteína de carne e 40% da colheita mundial de grãos destina-se para alimentar o gado.
O gado não é naturalmente um comedor de grãos, e sendo forçado a comer esses grãos se produzem danos aos seus órgãos internos e um convite para as doenças que têm que serem tratadas com antibióticos para manter os animais vivos.
Gado, cabras e ovelhas convertem a celulose que não podemos digerir em leite e carne que podemos consumir, e as ovelhas ainda produzem lã.
Bem gerido, eles tomam o carbono da atmosfera e os colocam no solo. Eles tornam áreas que de outra forma seriam improdutivas em ambientes férteis.
A pecuária é uma parte essencial de qualquer ecossistema - não existe um ecossistema natural de terra no mundo que seja desprovido de animais. Sob padrões orgânicos todos os agricultores precisam ter animais como parte de seu sistema produtivo, e eles deveriam mesmo ter para processar os resíduos das colheitas e ativar o solo.
Gado criado no pasto (Vernon Valley Farm)

Precisamos de mais bovinos e ovinos na Austrália, não menos. Muitas áreas de cultivo têm dispensado totalmente as ovelhas e substituindo o papel dos ovinos no manejo de plantas daninhas com agrotóxicos (herbicidas) e nitratos, os grandes destruidores de carbono do solo. Para uma agricultura sustentável, os animais devem ser trazidos de volta.
Não há absolutamente nenhuma justificativa para que os produtores de gado alimentados no pasto serem punidos pelo comércio de carbono(*), ou para que organizações ambientais peçam a redução de seus rebanhos.

[Alan Broughton é um pesquisador da agricultura biológica e professor de Strathfieldsaye Estate.]



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