Doenças do Coração: Uma Moléstia Inflamatória
Nesta segunda página já vou colocar a
visão que a Medicina Ortomolecular tem a respeito da arterioesclerose,
ou aterosclerose. Extraí este texto do livro citado na bibliografia,
sem no entanto colocar as propostas terapêuticas do autor. O objetivo
disso é manter os méritos do médico americano, respeitar os direitos
autorais e abrir espaço para uma nova visão desta tão temida e grave
doença. Em outras páginas vou trazer outras opiniões sobre o tema. Boa
leitura!
Doenças do Coração: Uma Moléstia Inflamatória [1]
Ouvem-se diariamente alertas sobre a
gravidade do problema de colesterol entre os norte-americanos. Como
mencionei no Capítulo 2, as doenças do coração são a causa de morte
número um nos Estados Unidos. Como eu outrora, você provavelmente aceita
o que tais estatísticas e grande parte da mídia sugerem: o colesterol é
a causa das doenças do coração.
Nesse caso, talvez você se impressione,
como eu me impressionei, ao descobrir que não é o colesterol o culpado
pelas doenças do coração, e sim a inflamação dos vasos sangüíneos.
Minhas pesquisas revelaram que mais da metade dos pacientes de ataques
cardíacos nos Estados Unidos tem níveis normais de colesterol! E
adivinhe o que descobri que reduz significativamente ou elimina por
completo as inflamações dos vasos sangüíneos. Exatamente: os suplementos
nutricionais.
Essa descoberta é revolucionária para o
tratamento e a prevenção de ataques cardíacos. Em vez de se concentrar
somente em baixar os níveis de colesterol, você precisa entender os
passos necessários para diminuir a causa de inflamação em suas artérias.
Essa abordagem poderia ter implicações expressivas na prevenção e
reversão das moléstias do coração.
E Quanto ao Colesterol?
Você sabia que o colesterol elevado no
sangue nem sempre é considerado um fator de risco de doença arterial
coronariana ou AVCs? Quando comecei a praticar a medicina, em 1972,
considerávamos normal qualquer nível de colesterol abaixo de 320.
Lembro-me claramente de dizer a pacientes com níveis de colesterol de
280 ou 310 que não precisavam se preocupar, pois seus níveis estavam
normais.
Não foi senão no final dos anos 70 que
começamos a perceber que quanto mais alto o nível do colesterol, mais
risco havia de um ataque cardíaco ou um AVC. Isso se baseava, em parte,
nos estudos de Framingham, que acompanharam os casos de uma grande
população de pacientes que viviam em Framingham, Massachusetts. Os
cientistas notaram nesses estudos que, conforme subia o nível do
colesterol, mais alta era a freqüência de ataques cardíacos. Segundo
essa pesquisa, níveis de colesterol acima de 200 seriam considerados
anormais e acima de 240 deixariam o paciente sujeito a um alto risco de
ataque cardíaco.
No início dos anos 80, os médicos começaram a descobrir que nem todo colesterol era ruim. Aprendemos que o colesterol HDL (High Density Lipoproteins – Lipoproteínas de Alta Densidade) é, na verdade, benigno e, quanto mais alto seu nível, melhor. É o colesterol LDL (Low Density Lipoproteins
– Lipoproteínas de Baixa Densidade) que é maligno. O colesterol LDL se
acumula junto às paredes das artérias, formando uma placa e estreitando
seu lúmen (espaço interno por onde o sangue circula). Já a partícula de
HDL tem ação inversa, promovendo uma reabsorção do colesterol depositado
na parede da artéria, à medida que passa por esses pontos de acúmulo.
Depois dessa descoberta, começamos não
somente a medir os níveis do colesterol como também a determinar as
quantidades de colesterol benigno e maligno. Calculamos a proporção
dividindo o colesterol total pelo colesterol HDL. Quanto menor essa
proporção, melhor se encontra o paciente no que se refere a doenças
cardíacas. Hoje é prática comum checar rotineiramente os níveis de
colesterol HDL e LDL. Não preciso dizer que todos conhecemos bem a
importância do colesterol e dos efeitos detrimentosos do colesterol LDL.
O que compartilhei com você até aqui é do conhecimento comum. Está pronto para o conhecimento incomum?
O colesterol LDL na verdade não é
“maligno”. Deus não cometeu um erro quando o criou. O colesterol natural
LDL, o tipo que o corpo produz originalmente: é benigno. Na verdade,
ele é essencial para formar boas membranas celulares, outras partes das
células e muitos hormônios diferentes de que nosso corpo precisa. Não
poderíamos viver sem ele. Na verdade, se não o obtivermos a partir de
nossa dieta em quantidades suficientes, nosso corpo o produzirá.
Os problemas só começam quando os
radicais livres alteram ou oxidam o colesterol LDL natural. Esse
colesterol LDL modificado, sim, é “maligno”. Em uma edição de 1989 do New England Journal of Medicine, o
dr. Daniel Steinberg postulou que se os pacientes portarem
antioxidantes adequados para aplacar a oxidação, o colesterol LDL não se
tornará maligno.
Nos anos transcorridos desde o
surgimento da teoria do dr. Steinberg, centenas de estudos foram feitos
na tentativa de prová-la ou refutá-la. Pode-se deduzir por que
cientistas e pesquisadores receberam a nova teoria do dr. Steinberg com
tanto entusiasmo. Afinal de contas, dos cerca de 1,5 milhão de ataques
cardíacos que ocorrerão somente em um ano nos Estados Unidos, quase
metade atingirá pacientes com menos de 65 anos de idade. Todos tivemos
amigos ou entes queridos que pareciam gozar de excelente saúde e que
morreram subitamente de um ataque cardíaco. Se a teoria de Steinberg se
mostrasse verdadeira, portas seriam abertas para uma vasta gama de novos
protocolos preventivos e de tratamento.
Em 1997 o pesquisador Marco Diaz fez uma
impressionante resenha de todos os estudos que haviam aparecido em
publicações médicas de primeira linha desde que o dr. Steinberg
apresentou sua teoria. Diaz concluiu que os pacientes com níveis
superiores de antioxidantes em seus corpos eram os que menos sofriam da
doença arterial coronariana.
Estudos feitos em animais durante esta
época também apoiavam a teoria do dr. Steinberg. Os antioxidantes e seus
nutrientes de apoio se tornaram a nova esperança na guerra contra nossa
matadora número um: as doenças do coração.
A Natureza da Resposta Inflamatória
O colesterol LDL não é o único
instigador por trás da inflamação dos vasos sangüíneos. Outras causas
principais incluem algo chamado de homocisteína (sobre a qual
falarei no Capítulo 6) e os radicais livres que o fumo, a hipertensão,
os alimentos gordurosos e o diabetes causam.
A inflamação que ocorre em nossas
artérias é muito similar às reações inflamatórias vistas em outras
partes do corpo. Tentarei explicar esse processo em termos leigos, para
que você compreenda melhor o que realmente ocorre no nível celular. Não
se detenha tentando entender as minúcias do processo. (Isso é complicado
até para a maioria dos médicos, por isso, não se sinta mal se não
compreender tudo.) Explicarei agora qual a melhor forma de prevenir-se
contra esse ataque às artérias – o que é na verdade muito simples.
Ao observar a seção em corte de uma
artéria típica e de proporções médias (Figura 5.1), você só precisa
atentar à primeira camada de células, chamada de endotélio.
Trata-se do revestimento tecidual fino
da artéria. Tudo o que comentarei a seguir envolverá essa fina camada de
células e a área logo abaixo dela, chamada de espaço subendotelial (veja a Figura 5.2).
A superfície interna da artéria é
composta de uma única camada sensível de células chamada de endotélio,
sob a qual encontra-se a camada muscular. Entre o endotélio e a camada
muscular está o espaço subendotelial. É onde os danos começam a ocorrer.
O colesterol LDL natural fica preso no
espaço subendotelial, onde pode ser facilmente oxidado, se não houver
antioxidantes adequados disponíveis. Esse colesterol LDL oxidado é então
“engolido” pelos glóbulos brancos macrófagos até que esses fiquem
literalmente “estufados” de gordura. Lembre-se de que isso não ocorre se
o colesterol LDL não estiver oxidado. Quando o macrófago se estufa com o
colesterol oxidado LDL, ele se torna uma “célula espumosa”. A célula
espumosa causa danos então ao sensível revestimento da artéria, gerando
estresse oxidativo nessa área. Isso provoca lesões e disfunções do
endotélio, e o processo de espessamento das artérias tem início. I
A resposta inflamatória é um processo em quatro passos.
Passo 1: O Ataque Inicial ao Endotélio
O endotélio é um revestimento
extremamente sensível, vulnerável mesmo à mais ligeira irritação. Quase
todos os pesquisadores acreditam hoje que o espessamento das artérias
começa quando o estresse oxidativo lesa ou irrita essa camada celular.
O colesterol LDL oxidado, a homocisteína e o excesso de radicais livres provocam o estresse oxidativo que fere o
endotélio. Isso ocorre quando o colesterol LDL natural consegue passar
para a área abaixo do revestimento da artéria (chamado de espaço
subendotelial), onde fica oxidado. Esse colesterol começa então a
irritar o revestimento da artéria.
Passo 2: A Resposta Inflamatória
Nosso corpo tem um sistema defensivo
projetado para proteger o endotélio da artéria. No caso de ferimento,
ele responde enviando certos glóbulos brancos (em maioria monócitos) na
tentativa de eliminar o nocivo colesterol LDL oxidado. No local, a
equipe defensiva de monócitos se transforma em macrófagos. Essas células
começam então a absorver o inimigo na tentativa de minimizar a
irritação do endotélio. Se essa resposta inflamatória for bem-sucedida,
o problema estará encerrado, e o revestimento da artéria será
reparado. Mas não é isso o que costuma ocorrer.
Imagine o macrófago como uma minivan
branca. Conforme avança, recolhendo crianças e deixando-as nos lugares
adequados, ela está limitada à quantidade de passageiros que consegue
carregar simultaneamente, já que tem um número limitado de assentos e de
cintos de segurança. Nos dias bons, isso também ocorre com os
macrófagos. Quando estamos saudáveis eles giram por aí, recolhendo e
liberando colesterol natural LDL. E, assim como uma minivan, os
macrófagos só conseguem carregar um número limitado de partículas de
colesterol LDL por vez. Isso é conhecido como mecanismo natural de feedback negativo.
Quando o colesterol natural LDL é
oxidado, suas partículas deixam de ser crianças inofensivas. Em vez
disso, elas representam uma ameaça ao corpo, e os macrófagos os recolhem
por um método totalmente diferente. Eles continuam a recolher as
partículas delinqüentes de LDL oxidado, mas já não liberam nenhuma. É
como uma gangue de jovens extremamente obesos abarrotando-se na minivan
pela porta dos fundos, sem que o motorista tenha qualquer controle sobre
o número de garotos que entra. Se isso ocorrer, a van ficará imóvel e
logo começará a atravancar o trânsito.
Quando encontra o colesterol maligno, o
macrófago fica em um apuro similar. Como já não há um mecanismo natural
de feedback negativo, ele fica tão abarrotado de colesterol LDL oxidado
(gordura) que vira uma célula espumosa. É exatamente o que você está
imaginando: uma célula que parece uma bola de gordura. Essa célula
espumosa adere então ao revestimento da artéria e acaba gerando o
primeiro indício do espessamento das artérias, chamado de estria gordurosa.
A estria gordurosa é uma lesão inflamatória. É o passo inicial no processo chamado aterosclerose. Se
o processo simplesmente parasse aqui, o corpo teria ao menos uma chance
de eliminar esse defeito. Mas não é esse o caso. Como em qualquer
guerra, esse processo provoca algum dano colateral. Em outras palavras, a
camada fina e vulnerável de células que reveste nossas artérias é
danificada ainda mais pelo próprio processo que deveria curá-la. Isso
gera ainda mais inflamação, o que atrai mais macrófagos e converte o
colesterol natural LDL em LDL oxidado. Isso provoca uma resposta
inflamatória crônica na área em torno do revestimento de nossas
artérias.
Passo 3: Resposta Inflamatória Crônica
A inflamação crônica é a causa
subjacente de ataques cardíacos, AVCs, doenças vasculares periféricas e
aneurismas. Em geral, essas são classificadas como doenças
cardiovasculares (doenças que envolvem as artérias de nosso corpo).
Quando a inflamação das artérias persiste, a estria gordurosa simples
que descrevi começa a mudar. Não somente a inflamação atrai mais
glóbulos brancos (sobretudo monócitos), como esses se transformam em
macrófagos que continuarão a “engolir” mais LDL oxidado e a se
estufarem, formando mais células espumosas. Isso faz surgir uma placa
muito mais espessa, e o processo de espessamento das artérias atinge um
estádio avançado.
Essa inflamação também gera um estímulo
para que as células musculares que com põem a parede da artéria se
multipliquem. Essa multiplicação acarreta um maior espessamento da
parede arterial, sendo esse processo denominado proliferação. Como resultado, a artéria começa a estreitar-se (veja a Figura 5.3).
Tal processo é um círculo vicioso. Não
somente ocorre a geração de uma placa de gordura como também há um
espessamento da parede da artéria. Normalmente, o funcionamento da
camada endotelial decorre da liberação de um importante produto chamado óxido nítrico. Durante
a resposta inflamatória, contudo, a liberação apropriada de óxido
nítrico é bloqueada no endotélio, causando seu mau funcionamento. Isso,
em contrapartida, faz com que plaquetas adiram à placa e que a artéria
ao redor dessa sofra espasmos.
As células espumosas começam a se acumular, atraindo mais monócitos, que acabam se tomando eles próprios células espumosas. O músculo liso passa a proliferar e também a migrar para essa área, sendo que o lúmen da artéria começa a se estreitar. O revestimento
da artéria toma-se menos eficaz, o que promove maior estreitamento
devido aos espasmos da artéria e à aderência de plaquetas.
Passo 4: A Ruptura da Placa
O evento final em cerca de 50%
dos ataques cardíacos é a ruptura de uma dessas placas acarretando a
formação de um coágulo ao redor dessa placa rompida. Uma situação como
essa provoca um fechamento agudo, abrupto e total dessa artéria,
bloqueando o fluxo sangüíneo para aquela parte do corpo. Placas
potencialmente perigosas são, com freqüência, pequenas e podem até não
causar um estreitamento significativo da artéria – dificultando o
diagnóstico de doenças cardíacas antes da ruptura da placa. (Você pode
ver, agora, por que as doenças do coração são tão silenciosas e
insuspeitas até que a placa se rompa e bloqueie efetivamente a artéria.)
O estresse oxidativo também pode causar a avaria dessas placas, o que leva finalmente a sua ruptura.
As artérias podem continuar se
estreitando até o ponto em que ficam ocluídas (fechadas). Algum amigo
ou parente seu já teve de injetar contraste nas artérias para descobrir
se possuía estreitamentos severos das artérias coronárias? Esses
pacientes costumam ter como sintomas dores no peito, ou o que os médicos
chamam de angina instável. Em situações como essa, tais
médicos abrem os vasos mediante uma angioplastia (dilatação por meio de
um pequeno balão introduzido dentro do lúmen da artéria), ou criam um
desvio dos bloqueios por meio de cirurgia (pontes de safena ou mamária).
Se tivesse de passar um dia acompanhando
um cardiologista ou um cirurgião cardiovascular por um hospital, você
logo perceberia que ele passa a maior parte do tempo “apagando
incêndios”. Ele costuma tratar pacientes que estão no termo do processo
inflamatório, concentrando-se totalmente em tentar salvar uma vida de
modo heróico. Não resta muito tempo para ensinar aos pacientes as
mudanças de estilo de vida necessárias a retardar ou mesmo reverter essa
doença devastadora, evitando, assim, a necessidade futura de seus
serviços.
[1] Ray, D. Strand, M.D. O Que Seu Médico Não Sabe Sobre Medicina Nutricional Pode Estar Matando Você. Capítulo 5. Ed. M.Books, São Paulo, 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário