sexta-feira, 8 de julho de 2016

A VERDADE SOBRE GORDURA E AÇÚCAR É FINALMENTE EXPLICADA

A VERDADE SOBRE GORDURA E AÇÚCAR É FINALMENTE EXPLICADA

Artigo traduzido por Hilton Sousa e Regiany Floriano (primeira parceria entre o Paleodiário e o Menos Rótulos – que venham muitas!). O original está aqui.

por Men's Health

Novas estatísticas retornam com a gordura para o paredão de fuzilamento, mas nós não estamos convencidos. Eis aqui o porquê.



Outro estudo sobre gorduras, outro resultado contraditório. De acordo com um novo estudo de Harvard, a gordura saturada, como a encontrada na recém-redimida manteiga, aumenta seu risco de doença cardíaca, câncer e demência. Na busca pela palavra final sobre o assunto, entramos em contato com um dos membros-fundadores da Colaboração pela Saúde Pública, Dr. Aseem Malhotra, para explicar a verdade sobre o que estamos comendo.

Esta manha, como faço na maioria dos dias, quebrei o jejum com um omelete de 3 ovos preparado com óleo de coco, e um leite integral com café. Saboreei uma fatia de queijo integral com meu almoço, usei uma boa dose de azeite de oliva na minha salada noturna e lanchei castanhas ao longo do dia. Resumindo, ingeri uma quantidade grande de gordura e, como cardiologista que já tratou milhares de pessoas com doença cardíaca, isso pode parecer um comportamento peculiar. Gordura, afinal de contas, entope nossas artérias e nos faz ganhar quilos – ao menos é o que o aconselhamento médico/nutricional prevalecente nos quer fazer crer. Como resultado, a maioria de nós gastou anos fugindo das comidas ricas em gorduras e escolhendo suas contrapartes "sem gordura", na esperança de que isso nos deixasse mais em forma e saudáveis.

E ainda assim, agora estou convencido de que estamos ao contrário, promovendo danos sobre os quais não se fala: longe de ser a melhor coisa para a saúde ou perda de peso, uma dieta pobre em gorduras é o oposto. Na prática, eu digo que a mudança no aconselhamento nutricional de 1977, para restringir o volume de gordura que ingerimos, ajudou a instaurar a epidemia de obesidade que se revela hoje. É uma afirmação audaciosa, mas suportada por uma série de pesquisas recentes.

Atualmente, faço questão de dizer a meus pacientes – muitos dos quais estão lutando com problemas cardíacos debilitantes – para evitar qualquer coisa que tenha "baixa gordura" no rótulo. Melhor ainda, eu lhes digo para adotar laticínios integrais e outras gorduras saturadas dentro do contexto de um plano alimentar saudável. É uma instrução que às vezes é recebida com boca aberta e espanto, juntamente com a minha prescrição de manter-se longe de qualquer coisa que prometa reduzir o colesterol – outra dessas afirmações que nos dizem que pode promover saúde cardíaca e arterial ótimas.

Conforme veremos, a realidade tem muito mais nuances: em alguns casos, baixar os níveis de colesterol pode na prática aumentar a morte e a mortalidade cardiovascular, enquanto em pessoas saudáveis acima de 60 anos colesterol mais alto está associado com menor risco de mortalidade. O motivo, exatamente, veremos mais à frente.

Primeiramente, deixe-me esclarecer que até muito recentemente, eu também assumia que manter a gordura no mínimo era a chave para me manter saudável emagro. Na prática, dizer que a minha dieta girava em torno de carboidratos é eufemismo: cereal açucarado, torrada e suco de laranja no desjejum, sanduíche no almoço e massa no jantar não era um cardápio incomum. Combustível bom e confiável, ou assim eu pensava – especialmente por ser um esportista e corredor ávido. Ainda assim, eu tinha aquela "pochete" de gordura na barriga que nenhuma quantidade de futebol parecia consumir.


Essa, entretanto, não foi a razão pela qual comecei a mudar o que comia. O processo começou em 2012, quando li um artigo chamado "A tóxica verdade sobre o açúcar", do Robert Lustig, na Revista Nature. Nele, Lustig, professor de pediatria que também trabalha no Centro de Avaliação da Obesidade da Universidade da Califórnia, dizia que os perigos à saúde humana causados pelo açúcar eram tais que produtos cheios de açúcar deveriam carregar os mesmos alertas que o álcool. Foi um abrir de olhos: como médico, eu já sabia que muito de qualquer coisa é ruim para você, mas aqui estava alguém dizendo que algo que a maioria de nós come sem pensar todo dia estava, lentamente, nos matando.

Quanto mais eu busquei, mais tornou-se abundantemente claro que era o açúcar, e não a gordura, que estava causando muitos dos nossos problemas – que é o motivo pelo qual, juntamente com um grupo de colegas médicos, lancei o grupo de lobby "Ação sobre o açúcar" ano passado – com o objetivo de persuadir a indústria alimenícia a reduzir o açúcar adicionado em alimentos processados

Então no início desse ano eu tive outro momento de iluminação. Em fevereiro, Karen Thomson, a neta do pioneiro de transplante cardíacao Christian Barnard, e Timothy Noakes, um professor altamente respeitado de medicina esportiva da Universidade da Cidade do Cabo, me convidaram para falar no primeiro "encontro low-carb" na África do Sul. Eu fiquei intrigado, particularmente pelo fato de os organizadores serem pessoas fascinantes. Ex-modelo, Thomson tem lutado corajosamente contra uma série de vícios incluíndo álcool e cocaína, mas ultimamente é outro pó – um que ela chama de "puro, branco e mortal" – que resultou na criação, por parte dela, da primeira clínica de recuperação de viciados em açúcar e carboidratos do mundo, na Cidade do Cabo

Noakes, enquanto isso, recentemente fez uma notável reviravolta no próprio conselho dietético que ele defendeu pela maior parte da sua carreira: o de que atletas precisam encher-se de carboidratos para melhorar a performance. Ele mesmo um corredor de maratona, foi considerado o garoto-propaganda para dietas de alto carboidrato para atletas – e então ele desenvolveu diabetes tipo 2. Efetivamente arrancando páginas de seu próprio livro, Noakes agora diz que atletas – e isso vale para todos nós que gostam de uma corridinha despretensiosa no parque também – podem tirar sua energia das cetonas, não da glicose. Isso é, da gordura – e não do açúcar.

Junto com eles estavam 15 palestrantes internacionais, variando de médicos, acadêmicos e ativistas de saúde que entre si produziram uma demolição eloquente e baseada em evidências do "modo low-fat" de pensar – bem como sugeriram que é o consumo de carboidratos, e não de alimentos gordurosos, que está abastecendo a epidemia de obesidade.

Abrindo a conferência Gary Taubes, um ex-físico de Harvard que escreveu The diet delusion – onde argumentou que são os carboidratos refinados os responsáveis pelas doenças cardíacas, diabetes, obesidade, câncer e muitas outras das nossas doenças ocidentais. O livro causou polêmica quando foi lançado há 7 anos, mas sua mensagem está finalmente ganhando força. E a mensagem é esta: a obesidade não depende de quantas calorias que comemos, mas do que nós comemos. Os carboidratos refinados abastecem a produção excedente de insulina, que por sua vez promove o armazenamento de gordura. Em outras palavras: as calorias provenientes da gordura por si só, não são o problema.

É uma mensagem sólida que foi reforçada vez ou outra na conferência. Tome o médico de família sueco Dr. Andreas Eenfeldt, que dirige o blog de saúde mais popular do país o Diet Doctor. Em seu país de origem, os estudos mostram que até 23% da população estão aderindo a uma dieta de baixo carboidrato, com alto teor de gordura. Uma bomba-relógio você pode pensar – mas ao contrário das expectativas, enquanto as taxas de obesidade estão subindo em qualquer outro lugar, já estão começando a mostrar um declínio por lá.

Mais pesquisas sobre essa correlação ainda estão por serem feitas – entretanto, o Conselho Sueco de Tecnologia da Saúde já deixou sua posição clara. Após uma revisão de 2 anos envolvendo 16 cientistas,concluiu que uma dieta baixa em carboidratos, com alto teor de gordura, pode não só ser o melhor para a perda de peso, mas também para reduzir vários marcadores de risco cardiovascular em obesos. Em suma, como o Dr. Eenfeldt disse na conferência: "Você não engorda por comer alimentos gordurosos, assim como você não fica verde por comer vegetais verdes".

Isto é claro, é uma mensagem difícil de engolir para muitos, particularmente para os pacientes cardíacos, a maioria dos quais passou anos perseguindo uma dieta com baixo teor de gordura, pobre em colesterol, como sendo a melhor maneira de preservar a saúde do coração.

É uma mensagem de saúde pública que foi promovida pela primeira vez na década de 1960, após o estudo Framingham Heart, respeitado globalmente, que consagrou o colesterol elevado como sendo um importante fator de risco para a doença cardíaca. É a pedra fundamental das mensagens governamentais e de saúde pública – mas o que as pessoas não sabiam era que o estudo também levantou algumas estatísticas mais complexas como esta aqui: para cada 1 mg/dl por ano de queda nos níveis de colesterol em pessoas que participaram do estudo, houve um aumento de 14% na mortalidade cardiovascular e um aumento de 11% na mortalidade nos 18 anos seguintes, para aqueles com idade superior a 50 anos.

Esta não é a única estatística que não se assenta com a mensagem predominante anti-colesterol: em 2013, um grupo de acadêmicos estudou dados não-publicados anteriormente de um estudo seminal feito no início dos anos 1970, conhecido como o estudo da Dieta do Coração de Sydney. Eles descobriram que os pacientes cardíacos que substituíram a manteiga pela margarina tiveram um aumento da mortalidade, apesar de uma redução de 13% no colesterol total. E o estudo do Coração de Honolulu, publicado no Lancet em 2001 concluiu que, em pessoas com mais de 60 anos, um colesterol total elevado está inversamente associado com o risco de morte. Surpreendente, não é? Um colesterol mais baixo não é em si a marca de sucesso, ele só funciona em paralelo com outros marcadores importantes, como a diminuição da tamanho da cintura e a redução dos marcadores sanguíneos para diabetes.



Por outro lado, uma quantidade crescente de evidências sugere que, longe de contribuir para os problemas cardíacos, ter laticínios integrais em sua dieta pode realmente protegê-lo das doenças cardíacas e diabetes tipo 2. O que a maioria das pessoas não consegue entender é que, quando se trata de dieta, os polifenóis e ácidos graxos ômega-3 abundantes no azeite extra-virgem de oliva, nozes, peixes gordos e os vegetais são os que ajudam a reduzir rapidamente a trombose e a inflamação independente das alterações no colesterol. No entanto, os produtos lácteos integrais continuam sendo demonizados – até agora.

Em 2014, dois estudos do Cambridge Medical Research Council concluíram que as gorduras saturadas na corrente sanguínea provenientes de produtos lácteos estavam inversamente associados com diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. O que significa que em quantidades moderadas – ninguém aqui está falando para devorar uma tábua de queijos em uma sentada – o queijo é realmente um proponente de boa saúde e longevidade. O mesmo estudo, incidentalmente, constatou que o consumo de amido, açúcar e álcool estimula a produção de ácidos graxos pelo fígado que se correlaciona com um aumento do risco para estas doenças mortais.

É em relação ao diabetes tipo 2, de fato, que a mensagem pró-carboidrato-anti-gordura das últimas décadas tem feito alguns dos maiores danos. Um grande número de pacientes que sofrem de diabetes tipo 2 – o tipo mais comum – estão trabalhando sob o perigoso equívoco que uma dieta com baixo teor de gordura, rica em carboidratos dos amidos vai ajudar os seus medicamentos de forma mais eficaz. Eles não poderiam estar mais errados. No início deste ano, uma revisão crítica na respeitada revista Nutritionconcluiu que a restrição dos carboidratos na dieta é uma das intervenções mais eficazes para reduzir as características da síndrome metabólica.

Seria melhor mudar o nome do diabetes tipo 2 para "doença da intolerância aos carboidratos". Tente dizer isso ao público então. Como o homem que ligou para um programa de uma rádio nacional em Cape Town no qual eu estava fazendo parte para discutir a relação entre a dieta e doenças cardíacas. Diagnosticado com diabetes tipo 2, ele estava sob a impressão de que deveria consumir açúcar para que seus medicamentos para diabetes pudessem "funcionar" – quando na verdade ele estava piorando seus sintomas. E quantos médicos e pacientes sabem que, apesar de alguns destes medicamentos para controlar o açúcar no sangue possam marginalmente reduzir o risco de desenvolver doença renal, doença ocular e neuropatia, eles realmente não têm qualquer impacto sobre os riscos de ataque cardíaco, AVC ou reduzir as taxas de mortalidade ? Por outro lado a perigosa redução do açúcar no sangue pelo excesso de medicamentos para diabetes, tem sido responsável por cerca de 100.000 atendimentos de emergência por ano nos Estados Unidos.
Mas quem pode culpar o público por tais percepções equivocadas? Na minha opinião, uma tempestade perfeita de financiamento de pesquisas tendenciosas, reportagens tendenciosas na mídia e conflitos de interesse comerciais tem contribuído para uma epidemia de médicos mal-informados e pacientes malinformados. O resultado é uma nação de sobremedicados viciados em açúcar que estão comendo e se entupindo de pílulas e armando o palco para anos de sofrimento com doenças debilitantes crônicas e uma morte prematura.
É por isso que, hoje em dia, eu raramente toco no pão, me livrei de todos os açúcares adicionados e adotei a gordura como parte da minha dieta inspirada numa variedade mediterrânea. Sinto-me melhor, tenho mais energia e – embora eu não tivesse a intenção de fazê-lo – perdi o pneu adiposo em torno da minha cintura, apesar de reduzir o tempo que eu gasto com atividades físicas.
Talvez você não consiga fazer todas essas mudanças de uma só vez. Nesse caso, se fizer só uma coisa, faça isto: da próxima vez que for ao supermercado e ficar tentado a pegar um pote de margarina com baixo teor de gordura (light), compre um pote de manteiga ou, melhor ainda, uma garrafa de azeite extra virgem. Seu coração vai agradecer por isso. O pai da medicina moderna Hipócrates disse uma vez, "Deixe o alimento ser o seu remédio e o seu remédio ser o teu alimento". E agora nós deixamos a "gordura" ser o nosso remédio.

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