E as superfoods? Superfoods
são esses alimentos da moda, que custam uma fortuna, que até semana
passada você nunca tinha ouvido falar, mas cujo consumo estaria
associado a efeitos fantasiosos sobre a saúde: perda de peso, mais
energia, vida mais longa, melhora da performance sexual. Eis uma breve
lista: goji berry, amaranto, batata Yacon, maca peruana... eu nunca
havia sequer ouvido falar nessas coisas antes de ter que pesquisá-las
por causa de perguntas de leitores.
Bom, aqui o problema é, de fato, credulidade extrema, e seu irmão gêmeo, a falta total de ceticismo.
Quando algo parece bom demais para ser verdade, em geral é porque é
mentira. Simples assim. Sabemos isso na vida prática do dia a dia. Quem
não sabe, cai na mão dos estelionatários. Se você não cai em golpes o
dia inteiro, é porque possui algum ceticismo. POR QUE não usar esse
ceticismo também em relação às superfoods?
Exemplo: alguém me pergunta sobre geleia real. Eu respondo que é uma superfood
- para abelhas! Sim, é capaz de transforma uma operária em rainha,
quase como o Richard Gere no filme Pretty Woman. Aí, alguém responde: "É
riquisima em compostos bioativos, compostos fenólicos e em DHEA !!
Mostra significativos efeitos benéficos na neurogênese, melhora da
fadiga, melhora da memória, aumento da regeneração celular, melhora da
libido e, consequentemente e na modulação hormonal, olha que beleza...
amo super foods ..."
Então, você acreditaria em tudo isso se
fosse um representante de laboratório, falando sobre um novo remédio?
Espero que não, ao menos não sem referências bibliográficas peer
reviewed (clique aqui para saber o que é isso), em HUMANOS.
Como dizia Carl Sagan, "alegações extraordinárias requerem provas extraordinárias". Se eu digo que algo produz "Significativos
efeitos benéficos na neurogênese, melhora da fadiga, melhora da
memória, aumento da regeneração celular, melhora da libido e,
consequentemente e na modulação hormonal", trata-se
de alegações realmente extraordinárias. Mas... Onde estão as PROVAS
extraordinárias? Onde estão os ensaios clínicos randomizados,
comprovando tais efeitos da geleia real comparada ao PLACEBO? A resposta
é que não existem. Eis um documento da Autoridade de Segurança Alimentar da Europa sobre várias alegadas superfoods, e o que ele diz sobre geleia real:
The food that is the subject of the claims is royal jelly related to the
following claimed effects:
―natural defence/immune system, ―metabolism, ―vascular function, ―glands
function, ―skin
health, ―tonus/vitality, ―anti-asthénique, immunostimulant, ―ménopause,
effet oestrogénique,
hypolipidémiant, ―vitalité physique et intellectuelle, and ―helps heart
health and to maintain a
balanced level of cholesterol and lipids in the body.
Royal jelly is a creamy, whitish, strongly acidic secretion from the
mandibular and hypopharyngeal
(cephalic) glands of Apis mellifera (Hymenoptera, Apidae) nurse bees,
and is important in the sexual
differentiation and longevity of the queen bee. Pure royal jelly is
usually presented in the form of
cream, capsules, or powder/flakes (freeze-dried); additionally, it is an
ingredient in many products.
Royal jelly contains sugars, proteins, fatty acids, amino acids,
vitamins, salts and trace elements. The
average water content of royal jelly is 60-70 %. Crude protein (49-87
kDa) constitutes 12-15 % (or
about 50 % of the dry mass), sugars 10-16 % and lipids 3-7 %. Proteins
in royal jelly largely belong to
one protein family designated MRJP (major royal jelly proteins, about 90
% of proteins)
(apalbumins). Components of royal jelly reported to be biologically
active include various proteins
and peptides, the fatty acid 10-hydroxy-2-decenoic acid (10-HDA), and
unidentified components with oestrogenic activity. The composition of
royal jelly is reported to vary with seasonal and regional
conditions (Bincoletto et al., 2005; Fontana et al., 2004; Sver et al.,
1996).
In the human studies provided which addressed outcomes related to the
claimed effects the origin and
composition of the royal jelly used was not specified.
The Panel notes that from the references provided it was not possible to
characterise royal jelly in
general, nor the specific components of royal jelly mediating the
functions for which the claims were
made.
The Panel considers that royal jelly, which is the subject of the claims, is not sufficiently
characterised in relation to the claimed effects considered in this section.
The Panel concludes that a cause and effect relationship cannot be established between the
consumption of royal jelly and the claimed effects considered in this section.
Em resumo, não há evidências que
consubstanciem as alegações. Mas você teria que ser muito crédulo para
acreditar nessas coisas, não é mesmo? Se acredita, sugiro que nunca
compre um carro usado, e - por favor! - não acredite quando um SMS em
seu celular disser que você foi premiado e ganhou uma casa.
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